Crítica

Beco - Cabaret Gourmet (FECHADO)

3/5 estrelas
  • Restaurantes | Fusão
  • preço 4 de 4
  • Chiado
  • Recomendado
Alfredo Lacerda
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A Time Out diz

Quando a porta se fecha, parece que entramos numa capela escura. Ninguém diria que estamos no Bairro do Avillez, ao lado da praça central onde, àquela hora, janta uma turba barulhenta. Dentro das paredes grossas do Beco, no outro extremo, sente-se um misto de profano e religioso, tectos abobadados, paredes sem reboco e uma penumbra misteriosa, pontilhada por pequenos candeeiros de mesa. 

No lugar do altar, está um palco do tamanho de um cockpit de avião; o pároco é um bailarino de gestos afectados; e num mural que ocupa a parede do fundo, a pin up moderna Dita Von Teese vigia a sala.

É o único busto desnudo que vamos espreitar nessa noite, mas aparentemente isso é suficiente para constranger os casais da sala, todos num silêncio tenso, como numa sessão de terapia sexual. 

Ajuda a descontrair a chegada da comida. O primeiro momento traz muitas coisas pequeninas, fofas e saborosas. Dentro de uma rosa está escondido um pedaço de maçã embebido em tequila. Olhando, ninguém adivinha e tem de ser o empregado (devidamente vestido) a ensinar como se faz: “Tire só o que está no meio, com a pinça”. Não acontecendo a maravilha da descoberta, a maçã é fresca, suave, um grande aperitivo para os restantes amuse bouches: shot de guacamole cremoso, ácido e verde; tosta de foie gras finíssima, dentro de algodão doce; brandade de bacalhau notável; e o que parece ser um tártaro de atum com malagueta. 

Até aqui podíamos estar num início de refeição no Belcanto. É tudo Avillez clássico, equilibrado, muito bem feito, profissional. 

Como, aliás, parece ser o espectáculo. 

A animação começa e percebe-se que a ideia não é mostrar raparigas seminuas a tocar com o pé na testa. Há uma narrativa ou, pelo menos, uma tentativa. A protagonista é uma espécie de ovelha roliça do burlesco, a braços com um problema de apetite incontrolável. Nada disso afecta a sua voz, sobretudo quando canta Amy Winehouse, nem trava a sua destreza – e isso impressiona. 

Hão-de seguir-se outros hits, com outras artistas, mas o repertório anda muitas vezes entre o Chuva de Estrelas e o Trumps. Canta-se I will survive, depois I just wanna make love to you. Não está mal, os artistas são bons artistas, por vezes até procuram a interacção com a plateia. Mas a actuação tem pouco de estimulante para uma pessoa com mais de 12 anos (o limite mínimo de entrada no restaurante é de 18 anos).

Não ajuda, também, que a refeição vá oscilando de nível. O ceviche com gambas do Algarve traz o marisco esfarelado e mortiço. Há um interlúdio para pães (tendência, tendência) com uma gema trufada e uma maionese de chouriço, ambas sem grande brilho, ambas fora da elegância fresca típica de Avillez. O ovo com parmesão, trufa e alcachofra, por sua vez, é um parente pobre da galinha dos ovos de ouro, prato emblemático do Belcanto. Excelente o carabineiro no tagliatelle, com funcho e caviar, pena estar esfriado. E bom o rabo de boi com puré de favas. No final dos principais, grande recriação de piña colada em forma de bolacha, a abrir caminho para doces olvidáveis, que acabaram com um tabuleiro de xadrez na mesa, onde se simulava um xeque-mate com peças de chocolate. 

No final, há muita coisa competente neste Beco, algumas até excepcionais –  da comida aos vinhos, passando pela decoração e pelos bailarinos. Mas fiquei com a sensação de que é tudo forçado e demasiado educado. Um cabaret a brincar ao Moulin Rouge. Um restaurante a brincar ao Belcanto.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Detalhes

Endereço
Rua Nova da Trindade, 18
Lisboa
1200-303
Preço
130€
Horário
Sex-Sáb 19.30-21.45; 22.00-00.00; 00.00-02.00 (bar). Dom-Seg e Qui 20.30-22.45; 23-01.00 (bar).
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