Finalmente, uma surpresa!
Numa pequenina loja da discreta Rua do Forno do Tijolo, um aroma passeia-se das portas para fora, invocando, de imediato, as emoções de quem o sente e por ele se deixa levar. Eu deixei.
No espaço, duas coisas entusiasmaram-me muito: uma zona de produção de pastelaria, onde filas e filas de forminhas faziam espera para marchar rumo ao forno; e uma montra puramente amorosa (lá se exibiam com brio, mas sem manias, os mesmos bolinhos, já prontos a encontrar a boca).
O nome do estabelecimento é homónimo da criação que aqui se vende: uma única receita, com variações nas coberturas. O simpático rapaz que me recebeu, explicou-me que se trata de uma criação da avó – de nome Arminda, algarvia – feito à base de creme de pão. Fiquei intrigada. Décadas dedicadas a descobrir os doces sabores nacionais e nunca me tinham apresentado a este preparo. Não sei o que é, como se faz ou como se trabalha um creme de pão, mas o resultado é, mais que emocionante, emocional. É como se a tradição de doçaria portuguesa se encontrasse toda naquele pequeno. A comparação com o pastel de nata é imediata, até por causa do aspecto queimadinho e da forma, que é igual. Mas aqui não há lacticínios. O sabor, sendo bastante único, aproxima-se nalgumas notas das queijadas. O exterior é mais crocante, como uma massa areada de empada, muito, muito fininha. Sente-se logo um salgadinho certeiro. O creme é denso, mas não pesa. Passeia-se na boca e desce fácil e feliz. Ajuda ser muito equilibrado no doce e não ter sabores desnecessários. Parece que tudo acontece por obra de uma bonita junção de ingredientes primordiais transformados na intimidade do forno. Aconselho que se comece pelo simples (1€), uma delícia. Mas passem também pelas opções de frutos vermelhos (1,50€-2,50€) porque o seu azedinho nasceu para acasalar com esta massa.
Avó Arminda, não creio em vidas não terrenas, mas às vezes até gostava, para que nestes momentos o agradecimento lhe chegasse, tão justamente, por esta invenção magistral. Merece que todos a conheçam!