Quando soube de quem era o Brew, estranhei não ter ainda ouvido barulho sobre a nova casa do grupo Gastroco, dono das lojas Ground Burger e Crush Doughnuts. De cada vez que abrem alguma coisa, rebentam com a concorrência e isso soa de imediato por toda a Internet.
Na verdade, só sabem fazer comida boa. Mesmo que sejam conceitos importados, ficamos muitas vezes com a sensação de que a cópia é melhor do que o original. Foi assim com os hambúrgueres, o projecto inaugural, e é também um pouco o que acontece com este Brew.
Ainda que o grau de complexidade do desafio seja menor, o projecto cumpre com aquilo a que se compromete. Dar boas pizzas ao estilo New York e a maior selecção de cervejas artesanais (e industriais boas) da cidade, não estivessem também eles ao comando da distribuidora nacional One Pint.
A tónica, dir-se-ia, está mesmo nas bebidas, porque todo o espaço as coloca em destaque, seja por causa das duas dezenas de torneiras que presidem à sala do rés-do-chão (há outra, no primeiro andar), seja por causa das vitrinas de frio onde estão expostas as garrafas e as latas (500 referências, diz a comunicação oficial), seja porque é com elas que perdemos mais tempo.
Há apenas quatro referências a pizzas, mas as hipóteses de escolhas entre as cervejas pode deixar-nos a olhar para o telemóvel (carta por QR Code) durante demasiado tempo. Está bem feita a classificação – das mais leves às mais complexas – e cada marca tem um textinho a explicar a origem dos lúpulos e das fermentações.
É também por isso particularmente incompreensível e desgastante que, quando por fim nos decidimos por uma cerveja, o empregado venha e diga-nos que está esgotada – obrigando-nos a regressar ao QR Code e aos textinhos explicativos (aconteceu com as duas primeiras escolhas).
Se há coisa que o digital devia facilitar é a actualização do estado dos stocks, algo que aqui não sucedeu com as cervejas – nem com as pipocas, já agora, um dos acepipes da carta também ausente.
Felizmente, as pizzas estavam completas: quatro, apenas, vendidas à fatia, como em Nova Iorque, e feitas com a mesma técnica.
Há quem diga que as pizzas se dividem, basicamente, em dois estilos. A napolitana e a nova-iorquina. A napolitana é uma pizza mais leve, só farinha (normalmente de moagem fina 00), fermento e sal. As bordas da napolitana são mais altas e ganham um pontilhado escuro, sendo o centro fino.
A pizza de Nova Iorque distingue-se por a massa levar azeite ou óleo, o que faz com que frite ligeiramente. É uma massa mais dourada e estaladiça, por regra, que sobe no rebordo, mas não tanto como a napolitana, e que deve ser fina ao centro mas mantendo a estrutura. Idealmente, quando seguramos numa fatia, ela aguenta-se sem dobrar demasiado.
Ora, a pizza do Brew resistiu ao teste, cumprindo com os requisitos, em todas as suas quatro versões, ainda que os adereços tenham motivado apreciações diferentes. Mais consensuais as de queijo e pepperoni, muito bem aceite também a de chilli carne e burrata (a minha preferida), pouco apelativa a de cogumelos e alho negro.
No meu caso, comecei por estranhar a de cogumelos, mas à medida que avançava no triângulo gigante (55 centímetros de comprimento) ia gostando cada vez mais daquela mistura dos fungos com o creme de alho negro, ligeiramente doce e fermentado.
A massa leva a chamada massa-mãe, segundo o empregado com 48 horas de fermentação (é bom que não comecem a encurtar tempos, como acontece tantas vezes, perante o caos da realidade). A fermentação natural bem feita é essencial para que se consiga uma massa elástica mas húmida e saborosa, ligeiramente ácida.
Os preços vão dos 5,95€ (queijo) até aos 8,95€ (chili com carne), à fatia; e dos 39€ aos 59€, por uma pizza inteira, uma coisa do tamanho de uma roda de um camião.
Por fim, as sobremesas são igualmente curtas mas, na verdade, deveríamos falar em “a sobremesa”. Há só um tiramisù, mas não é um tiramisù qualquer, é um dos mais extraordinários da cidade – o que faz com que esteja aqui um dos doces mais apetecíveis de Lisboa.
Custa quase oito euros, mas uma dose dá para três pessoas e dá para muita felicidade. Leve e equilibrado o mascarpone, ao centro os palitos La Reine substituídos por bolo e ninguém vai reclamar por isso, digo eu.
O ambiente do espaço é urbano, ilustrações da Half Studio, ferro, pele e madeira, tectos altos e as janelas abertas para a Baixa, ainda estival durante a visita, com um movimento ruidoso de carros e eléctricos e turistas montados em tuktuks.
Nas colunas, passa música indie rock boa, Black Keys a dar o mote, The Strokes também. Bate certo com o lugar, com as pizzas e sobretudo com as cervejas.