Continuam os infortúnios da vida que me impedem de frequentar cafés, locais favoritos da vida metropolitana. Por isso, volta e meia, peço que os cafés venham até mim, metidos em caixinhas. Um amigo, de passagem por São Bento, mandou-me uma foto de pirraça da montra do Café São. Tudo lindo, nem lhe dei hipótese – quero este, este e este, daqui a vinte minutos, em minha casa. Cá se fazem...
Tudo tirado das caixas em pressa, comecei a despedaçar com a mão um perfeito quadradinho de bolo mármore (2,50€). Mais denso e gorduroso do que o que desejaria, ainda assim satisfatório, particularmente para acompanhar um chá bem quente. No sabor, gostaria de ter sentido mais a baunilha ou qualquer coisa a dançar com o chocolate, portanto desviei-me para a bolacha (2,50€). Com uma altura significativa, cada trinca era um caminho deliciosamente irregular, entre a textura desejada da massa – densa, tão chewy, mas sem precisar de estar mal cozida para chegar a esse ponto e, portanto, com os sabores bem desenvolvidos pelo cozimento. E depois encontrar aquelas pepitas de chocolate bom, negro, e na quantidade certa, tão equilibrada.
O auge dessa minha tarde de domingo foi um curioso montinho arredondado de chocolate (4,50€). Imaginem que um Ferrero Rocher ia a um daqueles programas de televisão de mudança extrema. Era basicamente o que ali tínhamos: uma fina base crocante de avelãs, que sustentava uma mousse de chocolate bem cremosa, sem, no entanto, expressar excesso de notas de natas. No centro, um quase literal coração – discreto na cor, mas explosivo à trinca – de um creme de avelãs crocantes e miudinhas. Toda esta semi-bola era coberta por uma linda glaçagem de chocolate, quase um espelho. Os nibs de cacau a ornamentar o topo acrescentaram uma curiosa dissonância de amargor, de dureza. Levai de metáfora para a vida.