Miguel Castro e Silva é um bom chef. A Gulbenkian é uma boa fundação. Tinham tudo para dar certo, juntos.
A história da aliança conta-se rapidamente. A Gulbenkian está servida por três espaços concessionados para comida. Um desses espaços foi recriado em Fevereiro pela mão do chef Miguel Castro e Silva. Na altura, a imprensa escreveu que o chef tinha posto a mão em tudo, e o próprio apareceu assinando por baixo a remodelação, orgulhoso dos serviços prestados. Prometia. Mas uma coisa é publicidade e o que se diz, outra coisa é o que é. E é mauzinho.
De duas refeições recentes, resultaram duas desilusões. Vejamos. A ideia de que agora há serviço de sala (antigamente funcionava só em modo self-service), como se apregoou, é só meia verdade. As pessoas fazem fila para pré-pagamento e depois os empregados levam os pedidos à mesa. Levam mal os pedidos à mesa.
Num dos almoços, as sobremesas — toucinho do céu (razoável) e arroz doce (bom) —, apareceram primeiro do que o prato principal, um Brás de pato (com falta de tempero). Na segunda visita, o vinho só veio já arrefecia o porco assado (na verdade, cozido e insosso, espapaçado num molho aquoso).
Também as entradas surgiram sempre ao mesmo tempo do que as saídas. No primeiro almoço, experimentaram-se iscas de bacalhau (bom o bacalhau, mas o polme gorduroso, a acompanhar maionese industrial mas satisfatória) e sardinhas fidalgas sobre pão de Mafra (de conserva, com picles, sobre um pão grosso e aborrecido). Noutra refeição, foi-se pelas moelas e pelas saladinhas – um desastre: as moelas boiando numa solução duvidosa atomatada, outra vez com pouco sal; as saladinhas (feijão frade com atum, milho com fiambre e grão com bacalhau) paupérrimas e básicas, uma criança de dez anos consegue melhor.
Quando paguei não fui recompensado. Quase quinze euros por pessoa é demais para o que se comeu.
Curiosidade. As facturas vieram em nome da Cerger. A Cerger é uma empresa especializada em catering e em gestão de concessões de restaurantes públicos (no portfólio tem o CCB e o Oceanário, por exemplo). Não me lembro de ver a Cerger nas notícias quando se comunicou esta nova cafetaria.
Independentemente disso, importa é que a Gulbenkian merecia melhor e que Castro e Silva, podendo fazer aqui algo de especial (o sítio é magnífico), não esteve à altura do desafio.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.