1. Cantinho da Adanaia
    ©Manuel MansoCantinho da Adanaia
  2. Cantinho da Adanaia
    ©Manuel MansoCantinho da Adanaia
  3. Cantinho da Adanaia
    ©Manuel MansoCantinho da Adanaia
  4. Cantinho da Adanaia
    ©Manuel MansoCantinho da Adanaia
  5. Cantinho da Adanaia
    ©Manuel MansoCantinho da Adanaia

Crítica

Cantinho da Adanaia

4/5 estrelas
  • Restaurantes | Português
  • preço 2 de 4
  • Grande Lisboa
  • Recomendado
Alfredo Lacerda
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A Time Out diz

Há uns dias conheci um distribuidor de bacalhau. Fiz-lhe uma pergunta parva. Qual é o restaurante que mais bacalhau vende em Portugal? Ele hesitou, depois respondeu: “É capaz de ser o Cantinho da Adanaia”. Nunca tinha ouvido falar. Estava à espera de um desses templos do bacalhau assado escondidos em aldeias minhotas, uma casa de pedra rodeada por lameiros e bois de cornos do tamanho de braços. Um bacalhau longínquo e intangível.

“Fica ali em Alverca”, rematou o meu informador.

Alverca é fácil. A partir do Campo Grande, apanha-se a A1 e é sempre a andar. Sai-se da auto-estrada, contorna-se uma rotunda e eis-nos na Urbanização Malvarosa, um bairro de apartamentos com certificado energético, vidros duplos e iluminação LED de origem. Em 14 minutos está-se sentado à mesa, sem pagar portagem e sem que um único semáforo nos trave. Mais rápido e económico do que ir ao Saldanha.

À entrada, percebemos logo que estamos perante um restaurante com fundo de maneio. Caves de vinho alinhadas expõem vários campeões nacionais, dos Barca Velha aos Vale Meão, garrafas boas para nos espantarmos usando a aplicação Vivino. Há também muitas garrafas magnum e outras ainda maiores, que este é um restaurante que gosta de tudo grande. Mesmo por trás, a vitrina das sobremesas confirma essa fama, com travessas de farófias como montanhas nevadas.

Já instalados numa das duas salas luminosas, onde despontam madeiras e toalhas de pano, sente-se logo a prevalência do bacalhau, ainda que não em regime de monopólio. A carta é extensa, portuguesa e coerente, dividindo-se entre grelhados, pratos de tacho e lagareiros. Para a brasa vão peixes de mar e de aquacultura, carnes diversas, de picanha black angus a posta maronesa. No tacho, fazem-se arrozes marinhos (polvo, lingueirão), galinha de cabidela e coelho com feijão ou à caçador, entre outros. Os lagareiros são de polvo e de bacalhau.

Para esta crónica contaram duas refeições, ambas ao almoço, ambas muito satisfatórias. A iniciar as festas, patanisca de bacalhau como entrada. Formato de sonho, massa elástica e densa, gulosas se quentes, borrachosas se esfriadas. Na mesa estava também já um queijo fresco de Montemuro, gordo e lácteo e muito fresco; bem como um pratinho de boa azeitona temperada com orégãos.

Daqui, foi-se directamente para o bacalhau. A dose para uma pessoa pode dar para dois seres humanos comedidos (15€). A técnica usada é a do bacalhau assado e depois desmanchado. Usam-se postas tradicionais de categoria especial, da Riberalves – compradas congeladas e já demolhadas. Vão assim para a grelha, a temperatura baixa. Saem com um ligeiro torrado por fora, por dentro húmidas. Quando está cozinhada, a posta é retirada, desfeita em lascas e regada com azeite e alho. O ponto do alho é importante, um dourado ligeiro apenas. Tal como é importante o empratamento, com o bacalhau a ser moldado numa pilha de grande efeito dramático. De cada vez que uma travessa sai da cozinha, as cabeças viram-se.

Se é o melhor bacalhau à lagareiro que já comi? Não é. Mas é muito bom. E isso, numa Grande Lisboa pobre em gadídeos de qualidade, vale muito.

Mas há mais. A outra grande especialidade da casa é o coelho à caçador. Na carta, só vem a possibilidade de servir uma dose para duas pessoas, mas eles fazem um jeitinho só para um. Vale bem a pena. Estava saborosíssimo, tenro, imerso em molho sedoso, bem apurado e avinhado, a acompanhar batata aos palitos caseira, seca e crocante.

Noutra visita, provou-se o arroz de polvo. Também aqui se fez o jeitinho da dose individual (18,50€), que não era tão individual assim, nem no preço nem no tamanho (deu de jantar a mais duas pessoas). Os bagos, tragicamente, eram de agulha. Com aquele molho malandrinho, pedia-se um carolino – diz o cânone tradicional português e digo eu. Mas o cânone e eu somos preconceituosos. A verdade é que o prato estava excelente, mesmo sem carolino. O agulha era desses compridos, cozido al dente, não interferindo com o molho irrepreensível, apurado com água da cozedura do bicho e – suspeito – vinho tinto de qualidade

No final, fiquei a imaginar o que seria este arroz com um carolino bom, servido no ponto. Coloquei a questão ao empregado, que respondeu o que já esperava. “O agulha não fica espapaçado, ao contrário do carolino”. O carolino também pode não ficar. Mas requer mais cuidados.

Para terminar, não poderiam faltar as farófias. Como é apanágio da casa, uma dose dá para dois. E come-se sem grande peso na consciência, porque as claras têm muito poucas calorias e colesterol. Estamos a comer sobretudo açúcar com ar, óptimo ar.

Em síntese. Há mais do que uma boa razão para irmos ao Cantinho da Adanaia. Acresce ao bacalhau e à comida de tacho, um serviço que nos faz sentir logo da casa e um proprietário frenético, atento e preocupado.

Todos a Alverca

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Detalhes

Endereço
Urbanização Malvarosa Parque
Praça Eng. José Vaz Guedes 2B, Lote 30, Loja 2
Alverca
2615-043
Preço
15-25€
Horário
Seg-Sáb 10.00-23.00
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