1. Carnal
    Mariana Valle Lima
  2. Carnal
    Mariana Valle Lima
  3. Carnal
    Mariana Valle Lima
  4. Carnal
    Mariana Valle LimaCarnitas de lechón, salsa borracha, salsa verde, pickles, frijoles con pico de gallo y chicharrón
  5. Carnal
    Mariana Valle LimaQuesadilla de leitão
  6. Carnal
    Mariana Valle Lima
  7. Carnal
    Mariana Valle Lima
  8. Restaurante, Cozinha Mexicano, Carnal
    ©Mariana Valle LimaCarnal

Crítica

Carnal

4/5 estrelas
O crítico Alfredo Lacerda ia preparado para dar um correctivo a Ljubomir Stanisic, mas teve de meter a viola no saco.
  • Restaurantes
  • Chiado
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A Time Out diz

A questão colocou-se de imediato: estaria o Carnal à altura da performance televisiva de Ljubomir Stanisic? Ora, restaurantes mexicanos de chefs europeus costumam dar asneira; e os primeiros testemunhos de clientes apontavam nesse sentido. “Nada de especial”. “Fraco”. “Já comi melhor”, disseram-me amigos, acrescentando: “Tens de lhe dar um correctivo. Tens de vingar os humilhados do Hell’s Kitchen.”

A verdade é que, assim que passei a porta, cheirou a descalabro. O ambiente era o de uma cantina barulhenta, grupos de turistas americanos sendo turistas americanos, numa vozearia de caserna ao som de um flamenco à la Gipsy Kings.

Quanto à decoração, apesar da autoria artística e da serpente azteca no tecto, o espaço parecia desarrumado, incaracterístico, frio – muito frio. Já sentado, mesmo à minha frente uma grelha de ar condicionado projectava ventos polares. A empregada foi chamada a resolver e fez o que fazem os empregados: assentiu e virou costas.

Colocaram-se, então, os cenários do costume:

1) fica tudo na mesma;
2) a temperatura aumenta apenas meio grau;
3) vem o chefe de sala informar que “o sistema está centralizado e blábláblá” (uma forma polida de dizer: “Andamos aqui de um lado para o outro e estamos com um calor do crl.”).

A verdade é que nada disto aconteceu – e o incidente foi transformador. O que se passou devia ser exemplo de boas práticas nas escolas de hotelaria. A temperatura começou por aumentar uns dois graus centígrados e a empregada veio perguntar se estava bem assim. Não estava. Acudiu então o chefe de sala. Primeiro, foi honesto: “Se aumentarmos mais a temperatura, a sala vai ficar muito quente.” Depois, foi diligente e prático: “Podemos mudá-los de mesa, se preferirem.” Dito e feito. Agilidade e bom senso.

Aos cinco minutos de jogo eis, portanto, o meu primeiro equívoco da noite. E havia mais.

Segundo equívoco. A comida. Estava à espera dos tacos do costume e dos atalhos do costume. Falo, por exemplo, de tacos al Pastor feitos sem chiles secos (caros, difíceis de importar); de salsa verde sem tomatilhos frescos (ainda mais difíceis de encontrar); de pasta de achiote manhosa ou inexistente. Engano. O Carnal faz check em todos os ingredientes críticos e tem um grande al Pastor.

De resto, o menu concilia tradição com umas pitadas de criatividade, mas não se traficam sabores autênticos por soluções de conveniência pintadas de pós-modernismo. O que há são acrescentos: um polme moderno, uma coleslaw, uma maionese de kimchi. Sempre com tino e com alma mexicana.

Há também técnica e cuidado. Isso pode ver-se em coisas simples, como no chicharrón, torresmos que se tornam facilmente borrachosos e râncidos e aqui são leves e estaladiços; ou no guacamole, versão fresca com pedaços (em vez da papa de abacate do costume); ou no extraordinário polvo; ou no flan de la abuela, misto de tarte de queijo basca e flan tuga.

Terceiro equívoco. Preço. Um restaurante de chef de prime time da TV, em pleno Chiado, faria supor que teríamos uma factura inflacionada. Mas o Carnal é mais barato do que os mexicanos da Margem Sul. Sem cocktails, a conta pode andar entre os 20€ e os 25€. Com cocktails (muito bons), chegará aos 35€.

Por fim, quarto equívoco. Já depois da visita, leio que Ljubo deixou o restaurante nas mãos dos “filhos” do 100 Maneiras, Manuel Maldonado, João Sancheira e Luis Ortiz. A responsabilidade é deles, ainda que o chef infernal seja investidor e ande por perto. Acresce que, aos fogões, não está um rapazola que leu dois livros de culinária mexicana e viu três vídeos no Youtube. Luis Ortiz é natural do México e é quem manda na cozinha.

Uma bela cozinha. Uma Paradise Kitchen.

Detalhes

Endereço
Rua da Misericórdia, 78 (Chiado)
Lisboa
1200-334
Horário
Seg-Sex 18.00-02.00, Sáb-Dom 13.00-02.00
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