Lembro-me bem da primeira vez que fui jantar à Casa de Pasto. Lembro-me de ficar extasiada com a decoração, de ter passado a noite a descobrir pormenores nas prateleiras, tecto e paredes, daquela meia luz da sala muito bem conseguida e lembro-me até de ter achado piada ao design do menu – confissão: levei-o para casa e tudo. Já não sei ao detalhe o que comi, mas recordo o rissol de berbigão, uns legumes na brasa (agora desconfio que já fosse o Josper, mas na altura ainda ninguém o tratava por tu) e, o mais curioso de tudo, é que me lembro do preço como se fosse hoje: 28€ por pessoa, por um jantar com umas amigas, alguma comida e vinhos.
Estávamos no final de 2013, a Casa de Pasto tinha acabado de abrir portas, e fixei-o porque aliado ao factor novidade, por mais kitsch e descontraída que fosse a sala, este era um restaurante de chef (Diogo Noronha, relembre-se), onde facilmente se ia jantar com amigos ao fim-de-semana, sem gastar muito. E os preços para esse tipo de cozinha, original, assente em bons produtos e com dedo de autor, sempre foram altos. Voltei lá mais algumas vezes, não decorei mais nenhuma conta, mas sempre encarei a Casa de Pasto como um restaurante ali nos 30/35€, com vinho e sem me atravessar nos cocktails.
Três anos depois (final de 2016), Diogo Noronha saiu, entrou Hugo Dias de Castro – diz-me o Linkedin que passou pelo Ritz Four Seasons e pelo Tabik, antes de entrar na Casa de Pasto – e um ano depois (final de 2017, não se perca) voltei lá para conhecer o trabalho da nova chefia. Primeira impressão só de olhar de relance para o menu foi a subida de preços – verificou-se no final a minha suspeita, 43€/pessoa com vinho a copo. Pode dar-se o caso de terem aumentado antes, admito, os tempos são outros, claro, e a Lisboa turística tem poder de compra para tal. Mas por isso mesmo estava uma sala cheia de websummiters e gente de vários sotaques e apenas quatro almas lusas: Sérgio Godinho e respectiva companhia, eu e respectiva companhia.
O novo chef manteve o estilo de ementa, com acepipes, potagens, pitéus, pratos principais e iguarias, experimentei um bocadinho de cada e, tirando a mítica presa (já fazia parte da ementa), que excedeu o tempo no Josper e ficou ligeiramente seca, estava tudo muito bom - até o cesto de pão de entrada, a broa molhadinha, a bica (estilo focaccia) caseira, o pão saloio.
O rissol de berbigão (3,50€) mantém-se excelente e ainda não sei se gosto mais do recheio apurado, se da envolvente, a caminhar para a massa tenra, bem frita e enxuta de gordura; a salada de sapateira em tostada de milho (5,50€), caseira e estaladiça, trazia a carne a desfiar, um toque cítrico e estava bem gulosa; e os mexilhões na brasa com escabeche de legumes (10€), fresquíssimos, com um toque avinagrado, voaram num instante.
De pratos principais, um polvo grelhado com puré de cebola e chalotas caramelizadas (18€), muito tenro, muito saboroso, de se comer à colher, acompanhou com um cremoso e óptimo arroz de cogumelo e pinhão (5€, caríssimo... é o pinhão, eu sei); e a tal presa de porco preto (18€) com batatas em duas frituras (3€, agora sim, caríssimas), deliciosa de sabor, apenas um pouco seca. Para sobremesa o doce da casa (4,50€), ou uma versão moderna de, com caramelo na base, natas, ananás e bolacha ralada. Engraçado.
Resumindo. Ainda se come muito bem na Casa de Pasto, o sítio mantém-se lindíssimo – mas sobre isso já muita tinta correu –, o serviço impecável e conhecedor e só senti falta de uma música mais alta para disfarçar a barulheira dos talheres e a conversa dos oito franceses vestidos de igual (de uma startup, provavelmente). Não querem baixar só um bocadinho o preço?
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu