Há um par de meses entrei no Choupana, contente pela oportunidade de provar os deleites do badalado café. Mas a visita resultou tão pouco entusiasmante – na altura foram os densíssimos scones que denunciaram a sobrevalorização – que parti decidida a não mais voltar.
Mas eis que, por estes dias, uma expressiva fila, de encontro à intempérie outonal, me impeliu a acreditar em segundas oportunidades.
Estóica esperei e, já sentada, precisei de foco para me orientar através de um menu, chamemos-lhe, diverso. Torradas, panquecas, passando por iogurtes e chegando às “bowls” (ah, o flagelo que é deter uma língua que ainda não inventou nenhuma palavra para descrever um recipiente côncavo) cada produto, para além das sugestões da casa, pode ser recheado por dezenas de opções. Apeei-me em três especialidades.
A confirmação da primeira impressão foi-se adensando à medida que os pratos aterravam. Isto é, quando aterravam. Vejamos que, no meio do frenesim, entre a chegada do primeiro e do último prato, decorreram mais de 30 minutos, 20 dos quais passados a olhar a solidão de umas migalhas.
O croissant de ovo e amêndoa (1,60€) foi a opção mais simpática, apesar de mal cozido a um ponto que a primeira nota sentida foi mesmo o fermento cru. Contudo, era equilibrado no doce e generosamente coberto por amêndoas crocantes. Já a “french toast” (7,50€) é de uma danosidade difícil: o pão nem chega a ter a cremosidade do embebimento, nem alcança qualquer tostado estaladiço; são duas infindáveis fatias massudas. A quantidade de manteiga em que são fritas não pode lidar com a adição do sabor do bacon, e nem o ácido do mirtilo ou das natas azedas são suficientes para quebrar este vórtex de gordura animal (assumindo que seria essa a ideia).
E por fim, as panquecas (7,50€), as piores que já comi na vida: a massa era de tal maneira borrachuda que me debati até para as partir; os cremes que as recheavam podem ser descritos, simplesmente, como sabendo mal. Todas as outras coisas que piquei dos pratos alheios – ovos, scones, panquecas simples – ora desensaibidas, ora desacertadas na textura, não chegaram sequer a ser medianamente aceitáveis.
O mais surpreendente foi mesmo a simpatia dos empregados, à prova de toda aquela confusão. O sucesso do Choupana é um fenómeno que seria preciso recorrer a várias ciências sociais para explicar. Da nossa experiência, fica por vislumbrar o sentido de um sítio que claramente se preocupa com muita coisa, menos com o que dá de comer às pessoas.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.