Quando se fala em cozinha emocional não penso em Adrià a fazer espumas ou o duplo encarpado. O que eu acho mesmo emocionante é entrar num restaurante sem saber ao que vou e o ar cheirar a uma rua de Chengdu e na ementa haver coisas como cabeça de peixe em óleo de malagueta ou fígado de porco salteado com aipo e algas.
É assim este Chuan Yue, que nasceu no sítio do mítico Dragão d’Ouro, ao lado do Teatro Maria Matos. Entrei lá pela primeira vez há umas semanas, quando estava de passagem. Os janelões deixavam ver praticamente só asiáticos, muitos deles jovens chineses excitados por poderem voltar a praticar um dos seus desportos favoritos: queimar a boca com ma la, nome dado à sensação de picante e dormência provocada pela combinação de malagueta e pimenta de Sichuan. Na ementa, descobri depois mais de uma centena de entradas, extenso poema gastronómico e manual de produtos, técnicas, cultura e geografia agrária.
Confirmei depois que o cozinheiro veio mesmo de Chengdu, uma das 18 cidades gastronómicas reconhecidas pela Unesco no mundo. A cozinha desta região tem coisas delicadíssimas, nomeadamente uma tradição vegetariana requintada de inspiração budista. Mas os grandes emblemas são pratos como o frango kung pao (com amendoim, pimentos, ceboleto...) ou a carne de porco fatiada cozinhada duas vezes (entremeada finíssima, delicioso). No Chuan Yue pode contar com tudo isto e mais, e é tudo bem feito e genuíno.
Serviço simpático, carta explícita e bem escrita.
À falta de bungee jumping ou troca de casais, é isto. A aventura fica por uns 10/15 euros. Pechincha.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.