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Clube de Vídeo

  • Restaurantes | Italiano
  • preço 1 de 4
  • Xabregas
Alfredo Lacerda
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A Time Out diz

Tem-me acontecido ir pela primeira vez a um restaurante, seguir a morada pelo Google Maps, chegar lá e ver que ocupou o lugar de um restaurante falecido. É uma situação triste. Um restaurante que fecha costuma ser um sonho que termina.

No caso, chamava-se Tarara. Escrevi sobre ele, aqui, em Junho de 2019. Tinha um chef talentoso, um serviço de sala simpático, um óptimo bacalhau negro com miso. À frente das operações estavam certamente pessoas apaixonadas pelo projecto.

A minha experiência no Tarara não foi, contudo, muito positiva e o que escrevi na altura deu conta disso. No final, fazia o balanço: “Se deste almoço tirarem lições, temos restaurante. Se não tirarem nada, há-de se perder tudo.” Dei conta disto a um amigo e ele concluiu, demasiado rápido: “Fechaste mais um.”

Claro que não. As críticas não abatem restaurantes. Há oito anos que escrevo esta coluna. Já vi muitos restaurantes abrirem e fecharem. Já escrevi críticas boas de restaurantes que sucumbiram. E já escrevi críticas más de restaurantes que prosperaram. A verdade é que algumas circunstâncias podem agradar-me e desagradar à maioria das pessoas; e o contrário também. O que faz um restaurante é – isso, sim – a quantidade de pessoas felizes ou infelizes no momento de pagarem a conta. E esse é um trabalho de consistência, de paixão – que nenhuma crítica ocasional ou post pago no Instagram conseguem abalar.

E depois há a pandemia. E a localização: o Tarara não estava na Baixa, estava no Beato, onde os turistas não entram esfomeados pelas portas adentro. Erica Porru saberá isto. Foi ela que ocupou o seu lugar, embora já lhe arrendasse o espaço. Muitos conhecem-na dos Pizza a Pezzi, as pizzas al taglio; outros do seu trabalho no cinema, onde foi caracterizadora. Mas aos 50 anos é impossível falar dela sem falar da sua mãe: a italiana Maria Paola Porru.

Maria Paola fundou o Casanostra, o mítico italiano do Bairro Alto; e o Casanova, as pizzas do rio. Quando se fizer a história da restauração de Lisboa dos últimos 50 anos ela terá de lá estar.

Ora, Erica cresceu na cozinha da mãe. Sabe de cor de que é feito um bom restaurante; como se faz um spaghetti com tomate e anchovas; como se consegue a textura ideal dos gnocchis; como se enche um cliente de conforto sem encher o prato de ingredientes. Itália está-lhe no sangue e no espírito, e isso sente-se assim que entramos neste Clube de Vídeo, situado mesmo em frente ao Hub Criativo do Beato.

É Erica quem está aos fogões. A atitude é de quem quer dar prazer ao cliente, tendo prazer no que cozinha. Não se trata de um fine dining. Trata-se de alimentar bem pessoas boas num sítio bonito.

O menu do dia é decidido em cima do acontecimento. Dois, três, quatro pratos, a quantidade é em função do que lhe apetecer cozinhar e do que houver disponível no mercado e no frio: o pão remanescente pode ir para umas migas leves de azeite e ervas; os talos dos legumes seguem para a sopa; as bochechas de porco podem acabar no ragù.

No final, há sempre uma ou duas sobremesas, normalmente com a extraordinária mousse de chocolate a brilhar. Por um almoço de sopa, prato, sobremesa e café o normal será pagar 12 euros – o que é justíssimo e me fará lá voltar muitas vezes, tanto mais que o restaurante é luminoso e está decorado com estantes cheias de produtos italianos autênticos e com posters belíssimos de filmes belíssimos.

Por agora, o Clube de Vídeo só abre para almoços, de segunda a sexta. Mas sente-se que a coisa pode crescer. Esteja Erica feliz e a cozinha no ponto.

O Tarara morreu. O Clube de Vídeo nasceu. Que este filme tenha um final feliz.

Detalhes

Endereço
Rua do Grilo, 98
(Beato)
Lisboa
1950-146
Preço
12€
Horário
Seg-Sex 10.00-18.00
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