Entrar na Dacquoise é, à cabeça, um desafio sensorial: uma pessoa leva expectativa de alguma elegância francesa, mas recebe, em vez, baforadas de luz quase branca, muito brilho de acrílico, capitoné de plástico e bolos, muitos bolos, de onde sobressaem intrigantes tons fluorescentes (particularmente verdes). A música impositiva que sai dos vários LCDs espalhados pelo espaço instaura definitivamente um desconforto. Mas isto ainda era tudo pormenor, porque faltava o mais importante: provar. Comecei por um mini-éclair, cuja glaçagem era quase preta. Perguntando-me que ingrediente justificaria aquela cor, logo percebi que a cor era um fim em si mesma, o que, tratando-se de comida e não de decoração de interiores, me pareceu um mau princípio. Um ténue sabor a Nesquik foi o que consegui identificar. Chegando ao creme, essa mesma nota intensifica-se. Recomendo muito, portanto, para quem goste de Nesquik. A complexidade, para chegarmos à parte francesa da proposta, imagino que fique a cargo de umas petazetas de chocolate escondidas no creme, garantindo assim que, o que não se consegue por via do sabor, se consegue pela via da galhofagem. Mas verdade falo se disser que nunca deixará de me intrigar esta coisa de haver quem se proponha a pensar sobre coisas, ignorando liminarmente aquilo que justifica a existência dessas mesmas coisas, numa negação dos termos e prova cabal de niilismo gastronómico.
Enterrei a filosofia na bolinha de Berlim, cujo tamanho – um meio termo entre a normal e a miniatura – me agradou. E por aí ficou o meu agrado. Além de uma primeira onda de óleo, a chegada ao creme é desoladora: muito granuloso e muito doce, situação que acabei por relativizar quando provei a tarte merengada de limão que, para além de mais umas petazetas, desta vez verdes fluorescentes, carregava um inescapável sabor a...(estou com pudor em dizer) frigorífico. Para o leitor menos versado em provas da pastelaria francesa, quero esclarecer que não é suposto.
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