Quando chegaram os cubinhos de barriga de porco, com a pele vidrada como a de um leitão da Bairrada, percebi que estávamos perante outra coisa. Eis um restaurante chinês que não é nem posh para milionários, nem clandestino das redes sociais, nem o bastião de chop suey e arroz chao chao do bairro.
O Dragon Inn mistura pratos clássicos de Cantão e Hong Kong, de onde são oriundos os donos. Isto significa que vamos encontrar dumplings frescos, os bolinhos de massa recheados – como os magníficos har kau –, mas também pratos clássicos, muito consumidos naquela região, como o porco agridoce ou o frango de Huinan.
O porco agridoce é um prato frequente nos menus dos restaurantes chineses para ocidentais, mas bem feito é um portento. Pequenos dardos de carne de porco, marinada em clara de ovo e vinho chinês até ficar tenra mas elástica, que depois são fritos num wok e, por fim, escorridos e adicionados a um salteado de pimento e cebola. Conclui-se com um molho aveludado, doce e ácido.
Alguns pratos, todavia, foram estreias. Foi o caso de uns espinafres cozinhados num caldo de frango e porco, como se fosse um ramen, reconfortantes num dia de frio. E, noutra visita, dias depois, experimentou-se uma massa ao estilo singapuriano, salteada com caril, camarões e porco.
A região de Cantão tem ligações não só com Hong Kong, como com Macau. Pelo que não surpreende a inclusão na carta do minchi. Trata-se do prato mais célebre da fusão luso-chinesa que aconteceu em Macau, uma espécie de bitoque com carne picada, arroz, batata frita aos cubinhos e um ovo estrelado por cima.
O cuidado com temperaturas e pontos de cozedura mostra que há um chef na cozinha, Shao Jie de seu nome, de acordo com o site do restaurante. Daqui se percebe que estamos perante uma casa rara, sendo que não só há um chef de cozinha como também existe um chef pasteleiro – algo que se nota na secção de sobremesas.
Sabemos que os chineses não têm propriamente o conceito de sobremesa, mas aqui há várias. A maioria são de inspiração ocidental, como o tiramisù, o cheesecake de coco ou o bolo chiffon de laranja, e há ainda uma secção só de gelados caseiros.
Sobre o serviço, na sala reconheci a chefe de sala de um restaurante que existiu na Avenida Almirante Reis. É um serviço amador, mas atento e esforçado, que só não conseguiu que a sala tivesse uma temperatura decente. Estavam todos os cliente de casaco, enregelados, e mesmo uma empregada apresentou-se ao serviço em fato de neve.
O Dragon Inn fica numa urbanização classe alta, em Alcântara, onde já viveram outros restaurantes, como um tailandês de boa memória. A decoração parece a de um restaurante bem posto, com cadeiras sólidas e um ecrã de televisão ao centro. O ecrã de televisão tem o que parece ser um vídeo feito por AI de uma casa numa praia tropical, mas a única coisa que nos salva do frio é mesmo a comida. É levar um casaco e ir.