Se hoje em dia é impossível andar a par da quantidade de restaurantes de alimentação saudável que abrem em Lisboa (por mais lato que seja o conceito), por outro lado é fácil sinalizar os que são bons, autênticos e têm qualidade. Melhor dizendo: que não se limitam a atirar abacate sensaborão esmagado para cima de um pão de forma duvidoso, que por essas e outras receitas similares cobram fortunas e deixam a sensação que no site de uma qualquer guru da moda internacional se encontram melhores ideias para fazer em casa.
O Ela Canela, em Campo de Ourique, é um desses casos em que a promessa de produtos biológicos e sazonais, a ausência de alimentos processados e o método de cozinha saudável resultam em pratos verdadeiramente gulosos. Tanto que o meu amigo, arrastado para um almoço recentemente, começou por atirar que, cito, “este é o tipo de comida que o meu pai dá aos papagaios”, e acabou a lambuzar-se com um bolo de chocolate vegan (sem ovos), com farinha de espelta e pimenta rosa. Húmido, cheio de sabor, com uma cobertura de chocolate e pistáchios... tudo delicioso.
O menu para almoços é curto, tem um só prato de carne, um de peixe e um de vegetais, tanto que os próprios dizem que são mais um sítio para lanches ou brunches (ao fim-de-semana). Mas saí bem satisfeita com o hummus de grão e amêndoa, servido com tostas de pão da Gleba e com o prato de vegetais no forno (cenoura, abóbora e couve flor), com lentilhas e folhas verdes. Bons produtos, bons temperos. Óptima a sopa de cenoura e nabo e muito bom o peito de frango grelhado com quinoa, beterraba, cebola roxa caramelizada e romã. Tudo servido em tigelas de loiça bonita e tudo capaz de convencer o mais céptico dos carnívoros.
O brunch é feito à la carte, de novo com uma lista curta que pode (ou não) ser conjugada em menus (15€ ou 18€, mais ou menos o que se paga num almoço) e tem uns óptimos ovos escalfados com espinafres em tosta de requeijão e um belíssimo iogurte grego com fruta da época (pêra, no caso), granola e mel.
Nota muito positiva para os sumos, que misturam frutas e vegetais num equilíbrio perfeito, para o atendimento, bem simpático e despachado, e para a decoração, simples, arejada, à la nórdico, mas sem cair em exageros. Campo de Ourique tinha tudo, só não tinha um sítio assim.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.