Mateus Freire
Quando chegou a Lisboa, Mateus Freire quis comer comida portuguesa, “bem feita”, mas não encontrava. “Em Portugal estávamos a passar uma fase em que fechavam restaurantes de comida portuguesa, e abriam inúmeros espaços de todos os estilos de cozinha, japonesa, chinesa, mexicana, peruana”, recorda o chef da Faz Frio, no Príncipe Real. O cozinheiro começou a trabalhar cedo na área. Passou pela Herdade da Malhadinha Nova, pelo Claro ou pela Fortaleza do Guincho. “Foram sensivelmente dez anos na alta cozinha”, relembra.
Aprendeu técnicas, sabores, pontos de cozedura, empratamentos. Uma série de coisas, resume, no dia em que nos recebeu no restaurante centenário em que agora chefia a cozinha. Natural da Covilhã, quando chegou à capital, não encontrava o receituário português a que estava habituado. “A cozinha de mãe, familiar”, exemplifica. Quando foi estudar cozinha, o fine dining estava na moda. “Fiquei cativado e queria era trabalhar com o Avillez, o Sá Pessoa, com o Henrique Mouro ou o Vítor Claro”.
Foi à procura de técnica e foi gradualmente crescendo dentro das cozinhas. “Estava na Fortaleza e comecei a pensar que queria abrir um restaurante de comida portuguesa”, diz. A alta cozinha ensinou-lhe tudo ou quase tudo, mas é metódica. “Não se pode dar um passo ao lado”. Ficou cansado do ritmo e surgiu a oportunidade de abraçar o desafio da Faz Frio: comida portuguesa, feita com os melhores produtos, numa cozinha livre.
Olhando para o panorama actual, acredita que as coisas estão a mudar. Há uns anos, não se via jovens a trabalhar em restaurantes de comida portuguesa. Mas “temos aí uma vaga de cozinheiros que estão a tentar não perder esse lado”. Na sua Faz Frio, vai buscar o grosso ao receituário português. A partir daí, dá um toque pessoal, mas o sabor está lá. O jovem cozinheiro só está à espera “que as grandes empresas se abram a este tipo de conceitos”. Não é bem tradicional e tem sempre um apontamento pessoal. É a cozinha de agora.