1. Restaurante, Estórias da Casa da Comida
    ©Inês Félix Estórias da Casa da Comida
  2. Casa da Comida - Esplanada
    Fotografia: Ana Luzia
  3. Estórias casa da comidfa
    ©DR
  4. Estórias na Casa da Comida
    Fotografia: Ana Luzia
  5. Estórias na Casa da Comida
    ©DR
  6. Estórias na Casa da Comida
    Fotografia: Ana Luzia

Crítica

Estórias na Casa da Comida

4/5 estrelas
  • Restaurantes | Português
  • preço 3 de 4
  • Avenida da Liberdade/Príncipe Real
  • Recomendado
Alfredo Lacerda
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A Time Out diz

O almoço começou ao telefone. Do outro lado, uma voz educada explicou os recentes constrangimentos da pandemia – ”infelizmente, sábado estaremos fechados por causa das novas regras” –, apontou novas datas – ”hoje ao almoço ainda temos lugares” – e procurou arranjar soluções – ”há um pátio, se preferir”. Isto é cada vez mais raro. O que ouvimos frequentemente, quando ligamos para fazer a reserva, são frases curtas, frias, desdenhosas. “Quantos são”, “Estamos cheios”, “Adeus e obrigado”. Quem atende parece não perceber que o serviço começa ali; que a ligação ao cliente se inicia nesse instante.

Não esqueço que, há uns anos, depois de reservar no Loco, o estrela Michelin de Alexandre Silva, o próprio chef ligou para mim na véspera – como ligava para todos os clientes –, relembrando-me da reserva e perguntando sobre preferências e desordens alimentares. Só isso mostrou logo o seu compromisso.

A Casa da Comida sempre teve fama de tratar bem as pessoas, ainda que hoje a sua actividade principal não seja o restaurante, mas o catering. Talvez por isso muita gente se tenha esquecido de ir ao número 1 da Travessa das Amoreiras, a comemorar 45 anos de vida. Inaugurado por José Vale, um homem do teatro dado à gastronomia, tio dos actuais donos, o restaurante mantém a matriz clássica, com bom produto. Desde a minha última visita, há meia dúzia de anos, talvez tenha havido uma simplificação do menu e dos empratamentos – o que não é forçosamente mau.

Desapareceram os risquinhos de balsâmico e outros tiques à la chef dos anos 1990 e concentrou-se a atenção no sabor. Foi pelo menos isso que senti num almoço recente, que começou da melhor maneira. Primeiro, os croquetes de leitão. Gabo-me de ter no currículo uma dose razoável de croquetes. A cidade está cheia deles, desde os de rabo de boi, aos de bochecha, passando pelos clássicos de vitela e pelos mais inusitados de todos: os da cervejaria Gonçalo’s, 20 centímetros de comprimento cada um, o John Holmes dos croquetes. Ora, os croquetes de leitão do Estórias seriam os apêndices do John Holmes. Uma dose traz oito bolinhas do tamanho de abafadores. Lá dentro, carne desfiada grosseiramente, nada de espessantes, só sabor a leitão e bom panado. Desapareceram rapidamente, tal como aliás desapareceu o escabeche de perdiz com laranja. Equilibradíssimo, nem pimentão nem vinagre a mais, acompanhado de rodelas de laranja finas. Pecou, talvez, por demasiado frio, mas como o dia estava quente soube bem assim.

Fora as entradas – uma misturada de gulodices populares, do choco frito com maionese aioli ao mexilhão em caril verde e lima –, os pratos principais – quatro de peixe e quatro de carne – mantêm a mesma filosofia de tutti-frutti prático e saboroso. Estão lá o camarão tigre com risoto de legumes, as pataniscas com arroz de tomate e o polvo com batata roxa e alcachofras. E, nas carnes, destaque para o bife do lombo com mostarda e vermute e para o entrecosto de porco preto com molho de barbecue e batata frita com ervas.

Por sugestão da sala, fui pelo prato do menu do dia – um bom negócio por 17€, com café e sobremesa. No caso, era caldeirada de marisco servida em cataplana. Pernas de sapateira, mexilhões carnudos (pareceram-me dos da Nova Zelândia), camarão, berbigão miúdo, vieiras, peixe galo e pregado. Em vez de batatas, acompanharam duas fatias finas de bom pão frito e uma saladinha saborosa, servida à parte, de alface e tomatinhos.

Acabou tudo com uma charlotte de ananás, clássico de outros tempos, misto de bolo e bavaroise, fresco, bem feito.

Em síntese. O Estórias pode não ser o restaurante mais modernaço que há por aí. Nem tem sequer patine, porque as coisas estão cuidadas e a decoração é um pouco rebuscada, com falso vintage. Mas, aqui, sabemos que vamos ser bem servidos, em quantidade e qualidade, por um preço altamente razoável. E, hoje em dia, isso não é assim tão comum.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Detalhes

Endereço
Travessa das Amoreiras, 1
(Amoreiras)
Lisboa
1250-025
Transporte
Metro Rato
Preço
17€ (menu de almoço), 25-35€ à carta
Horário
Seg-Sáb 19.00-00.00
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