Crítica
Há boas intenções, entre elas trazer receituário regional, e há boas comidas, entre elas um polvo com batata doce e uma óptima salada de beterraba com tangerina e queijo. Pão acima da média, serviço acima da mediocridade reinante, azeitonas oxidadas, um pudim de pão fantástico. Ou seja, altos e baixos, no geral fica-se bem, melhor ao almoço do que ao jantar, mas temos sempre a oportunidade de comer qualquer coisa especial.
A preocupação com o produto nota-se, aliás, assim que passamos a porta. O restaurante é um híbrido com mercearia portuguesa à entrada e sala de refeições ao fundo. Na montra presuntos, lá dentro queijos seleccionados (atenção aos beirões da Beiralacte), enchidos e fumeiro de Estremoz e do Fundão (atenção aos painhos de António Abrantes), azeites de produtores pequenos, licor de medronho, doçaria da Madeira — tudo escolhido a dedo e bem.
Quanto à decoração, procura-se aquele compromisso difícil entre modernidade e tradição, ardósias e madeiras, espaço aberto, cozinha com balcão para a sala, tudo arrumadinho mas batido. Numa visita recente à noite, o facto de o sítio ser muito grande e não ter clientes deixou também uma ideia de desconforto, sensação exponenciada pelo facto de, à chegada, o cozinheiro estar inerte e aborrecido como uma velhinha à janela.
Este desolamento não se tinha verificado num almoço dias antes, ocasião em que tudo pareceu mais alegre e afinado, inclusive no preço, 12€ por cabeça. Temos portanto uma nova mesa para almoçar nas Avenidas Novas, com alguns pratos excelentes e... o pior nome de restaurante de 2017 (até ver).
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.