É preciso admitir o interesse infinito das invenções da pastelaria francesa. Não há vantagem absoluta numa ilimitada reprodução – mesmo que perfeita – dos originais e entusiasmam-me todos os desenvolvimentos criativos que dela se façam. A Fábrica dos Sabores parecia-me ir ao encontro desta perspectiva.
Comecei pelo rei éclair (3,90€). Espetei o dedo no creme do topo e logo a textura contrariou a minha expectativa: era bastante denso. O sabor, bom, era, no entanto, pouco declarado e não me pareceu justificar o peso. Cortei o bolinho a direito e deparei-me com recheio de chocolate a preencher cada espaço da cavidade do choux. Essa abundância, que normalmente valorizo, revelou-se demasiada, precisamente porque, mais uma vez, senti a densidade excessiva, sobretudo considerando o generoso tamanho. A massa, seu sabor e textura acabaram afogados. Mas os sabores são agradáveis, fazendo dele indicado para os grandes gulosos.
Segui com o mil-folhas (4,50€) e logo parti um pedacito da âmbar massa. Adorei, de caras! Era densa, sem perder o crocante das folhas e de sabor profundo, conferido por um forno bem forte, que caramelizou as notas da manteiga. Mas, novamente, um creme demasiado estruturado. Nem parece meu dizê-lo, mas achei que havia manteiga a mais (ou o frio da vitrine que, talvez excessivo, acaba por a solidificar). O sabor era uma baunilha discreta, pontuada por um caramelo amargo, como gosto.
Muitas palmas, por fim, para a tarte merengada de limão (3,90€): massa crocante (moderaria o açúcar e carregaria no sal) que recebe um lindíssimo curd de limão, ácido e com o amarguinho desejável das raspas amarelas, ainda pontuado, ao centro, qual cratera mágica, por uma geleia de limão ainda mais azeda, sentindo-se a textura dos micro-favos do fruto. Por cima, um merengue italiano flambeado, onde o monolítico açúcar é destabilizado por frescas raspas de lima. Foi o meu consolo estival num Natal pouco doce.
*Os críticos da Time Out visitam os restaurantes de forma anónima e pagam pelas refeições.