Foodriders
Mariana Valle LimaFoodriders

Crítica

Foodriders

4/5 estrelas
  • Restaurantes
  • Beato
  • Recomendado
Alfredo Lacerda
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A Time Out diz

Estou só eu a almoçar e Marta la Fea a atender. A designer, DJ e restauradora serve como poucos nesta cidade. Em menos de dez minutos, chegam o veggie burguer e as batatas fritas com cajun. Nas colunas, toca alto um rap da velha escola, música boa para abanar as ancas enquanto se mexe o tacho.

Sinto-me um privilegiado, mas sei que o momento é efémero. Em breve, a notícia há-de voar por essas redes sociais e o sítio vai esgotar como tortilhas quentes. Era assim, aliás, no saudoso templo de tacos e filas chamado Pistola y Corazón, onde tudo começou.

Foi nessa casa de boa fama, ao Cais Sodré, que o casal italo-americano Marta e Damien Izarry, e a sua crew internacional movida a picante, mescal e DJing, começaram a agitar Lisboa. Depois, no início da pandemia, largaram a Baixa e inauguraram o takeaway do colectivo Foodriders – já com o chef Diogo Noronha a bordo –, um óvni mexicano/vegetariano que se instalou aqui mesmo, numa subcave da Penha de França.

Já neste Verão, o projecto haveria de sair de portas e aterrar num baldio do Beato, para um pop up silvestre, a cores e ao vivo, sem saneamento nem iluminação – a que chamaram de Beato Island (e de que aqui dei conta). Finda a época de veraneio, recolheram à dark kitchen, ficando novamente só disponíveis para delivery e takeaway.

Há cerca de um mês, no entanto, perceberam que tinham um espacinho para albergar quem desse valor à comida in situ. No seu Instagram, acrescentaram “dine in” na bio, discretamente. É essa mensagem que me leva ao lugar.

Entro a medo pela porta gradeada, desço umas escadinhas. À minha frente, uma cozinha enorme forrada a microcimento, longas bancadas em inox onde cozinheiros dançantes manobram tachos e molhos para seguirem nos motoboys estacionados à porta.

“Pode-se almoçar?”, pergunto. “Claro”, responde Marta, encaminhando-me para uma mesa a um canto, junto à colecção de vinis. À disposição estão duas cartas. A das Las Gringas assenta na oferta mexicana; a da Ameaça Vegetal vende burgers vegan, batatas fritas, shakes, kombuchas e vinhos naturais.

Ao almoço, vou pelo burger The Ameaça Vegan. Como se sabe, os burgers vegetarianos são um sucesso lá fora. Em cidades como Nova Iorque foram das coisas mais pedidas em takeaway durante o confinamento. Por cá, não merecem tanta devoção porque as pessoas ainda vão na expectativa de poderem ter o prazer do umami animal, sem pecarem. Ora, a expectativa é o problema: não há nada que substitua uma rodela assada de carne bovina com 40 por cento de gordura.

O The Ameaça Vegan é, isso sim, uma excelente sandes em bun de batata, com queijo cheddar, alface, tomate, cebola, pickles e dois molhos: maionese de alho assado e um outro, intitulado “3000 ilhas”. As batatas fritas, a acompanhar, são palitos finíssimos e crocantes. Há a possibilidade de os pedirmos só com sal, ou então com a mistura de especiarias cajun (muito, por favor), onde entrará paprica, alho e ervas.

Já no final do almoço, Marta Fea, convida-me para ver o espaço ao lado. “Também temos uma salinha aqui no nosso armazém, que pode ser usada.” A sala é escura, com três câmaras frigoríficas e prateleiras cheias de ingredientes, do lado esquerdo. Do lado direito, uma mesa quadrada e, em fundo, um néon: “The End is Near”.

Hei-de regressar à noite, com reforços, para jantar no armazém. Em menos de nada, tenho a mesa cheia de tacinhas com os clássicos todos: carnitas, chicharrón, tinga de pollo, camarón, totopos, guacamole, cebola desflemada, maionese de chipotle, natas azedas, coentros e, claro, tortilhas. É tudo muito bom, mexicano autêntico, coisa rara nesta cidade, sobretudo agora que o Izcalli fechou. As bebidas da casa, da horchata aos cocktails (em garrafa), são também especiais. E o serviço é apaixonado, competente e rápido.

Único problema. O menu usa a mesma tecnologia do delivery. Ou seja, escolhe-se e paga-se, antecipadamente, na aplicação. Não é a coisa mais rápida e simples. Mas, se o fosse, teríamos a perfeição. E isso é coisa a que Marta Fea, maga de coisas lindas e cuidadas, não ambiciona.

Ide, mas não todos ao mesmo tempo.

*Os críticos da Time Out visitam os restaurantes de forma anónima e pagam pelas refeições.

Detalhes

Endereço
Calçada do Poço dos Mouros, 28
Lisboa
1170-318
Preço
15€-25€
Horário
Seg-Dom 12.00-23.00
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