Quando, na primeira década do século corrente, os cupcakes inundaram o mercado, e consequentemente o imaginário colectivo na temática “doces”, passei uns maus bocados no confronto com a desilusão: sem excepção que a minha memória retenha, todas as provas foram amargas.
Longe estava de imaginar que uma ida ao mercado, para aviar víveres de outra espécie, viesse a perturbar esta ordem da realidade. A caminho da saída, vislumbrei uma esquina, onde bolinhos prendiam o transeunte. Aproximei-me e a massa gritou-me coisas certas: o aspecto era já húmido e delicioso. Esqueci o passado e desejei ardentemente o futuro. Pedi três cupcakes. O primeiro que devorei foi de frutos do bosque, que me deu consciência do propósito desta criação: a humidade que a massa prometia com o aspecto cumpria-se – era airada, equilibrada no doce, zero secura indesejada. Para mais, coberta por um creme que não se limitava a ser mais uma mistela de má manteiga, mal misturada com toneladas de açúcar e corantes, sem qualquer préstimo gustativo: era suave, guloso, eu queria mais, mas o pequeno acabou. Passei ao de limão, que ultrapassou em qualidade. Mantendo-se a humidade, uma super-onda de real limão afogou-me a boca. Entre a massa e o creme que a cobria, lá estava ainda um nicho de delicioso lemon curd, salvífico no azedinho. Dos três pequenos, o que menos impressionou foi o red velvet. Apesar de a frescura se manter, faltou o toque de cacau na massa, que não senti, a dançar com a baunilha, e um sabor mais pungente a queijo, na cobertura.
O estabelecimento também faz bolos de aniversário, que adivinho serem uma óptima solução para o efeito, se a competência das massas e dos cremes for assim replicada para os formatos maiores!
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.