As afirmações categóricas valem o que valem, mas não há relativização que desconstrua o prazer totalizador que uma garfada certa de doce nos provoca. Serve o palavreado para justificar que não imagino bolo mais satisfatório e feliz que o tão clássico kitsch de morango e chantilly, deste também clássico estabelecimento alfacinha: se morango e chantilly é combinação já infalível, a sobreposição com as camadas do fofíssimo pão de ló – humedecido mas jamais ensopado – fazem deste bolo uma oferenda dos deuses do século XX, directa para os dias de hoje. Difícil mesmo é acreditar que vale a pena variar a escolha em descoberta das demais delícias do Frutalmeidas.
É o caso da tarte de amêndoa, que por tanto tempo ignorei, mas que, logo que me permiti, surpreendeu pela frescura da amêndoa, passada, como é costume nestas tartes, por uma calda açucarada, mas aqui tão pouco apurada. Quero dizer pouco se puxou pelo ponto de
caramelo, apenas o suficiente para exponenciar o aroma do fruto seco, que não fica menorizado por um queimado invasivo. E assim nos chegam elas, abundantemente dispostas sobre uma massa, filha do mais feliz casamento entre a massa de tarte e a massa de bolo. O resultado é sequinho, mas nem por isso aborrecido. Acompanho sempre com um café.
E há, enfim, a derradeira menina dos meus olhos: a tarte de maçã com mais orgulho em ser tarde de maçã que conheço. Não há atalho para a fruta: temo-la em gordos gomos, o que garante a inescapável acidez, só muito pontualmente beliscada pelo tostado doce que se forma na superfície. Parece uma remessa da madrinha que nos chega, vinda de atravessar o bosque, o mesmo onde colhe a fruta fresca. É este o tipo de imagens que busco quando me entrego aos doces; menos que isto, só pode significar receita falhada.