1. Garrincha
    Francisco Romão Pereira
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  3. Garrincha
    Francisco Romão Pereira

Crítica

Garrincha

4/5 estrelas
Luís Monteiro foi conhecer os dribles do Garrincha e saiu impressionado pela relação qualidade/preço e por uma óptima comida de conforto.
  • Restaurantes
  • Beato
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A Time Out diz

Para muitos brasileiros, Garrincha é o melhor jogador de futebol depois de Pelé. Franzino, pernas arcadas e com uma diferença significativa de altura entre as duas, poucos lhe antecipavam o sucesso que veio a ter no futebol. Garrincha driblou o destino com o mesmo talento com que driblava em campo. Infelizmente, mais tarde, o destino também o driblou a ele. Mas quem viu jogar o grande Garrincha fala dos seus dribles com o mesmo entusiasmo com que se descrevem os passos de dança de Nureyev.

Um restaurante Garrincha gera, assim, expectativas elevadas. A minha avaliação é que o talento está lá. É um Garrincha em início de carreira, prometedor, com talento para os dribles, que faz poucos auto-golos, mas com margem para crescer. Já sabe o que quer fazer em campo, mas a qualidade do seu jogo irá subir à medida que, ao seu repertório de dribles bem sucedidos, conseguir acrescentar outras dimensões do jogo. 

Sendo claro que é um projecto a dar os primeiros passos, poucos desconfiarão que seja o primeiro restaurante do chef que lidera a cozinha. Ele (e a companheira e colega na cozinha) escolheram Portugal e Lisboa para esta nova aventura. Não sei se para driblarem o destino, mas irão seguramente impressionar com os seus dribles gastronómicos. O espaço terá sido de um antigo snack-bar: aquelas salas sobre o comprido com balcão corrido de um lado e as mesas do outro. Mas encaixa no estilo relaxado, informal e de comida simultaneamente acessível e provocadora que o restaurante assume. Numa zona da cidade com uma marca cada vez mais étnica, o Garrincha não tem nada de brasileiro, mas é um restaurante que funde o Médio Oriente e o Mediterrâneo sem ser um restaurante de fusão. Direi que o foco é o mediterrânico, mas a inspiração é do Médio Oriente. O Médio Oriente dos sabores comuns que unem as culturas dessa região que a história e a geopolítica têm, infelizmente, dividido. 

Começámos com um dos pratos da noite: fatias finas de tomate coração de boi cobriam uma pasta de amêndoas e queijo. Absolutamente divinal, num equilíbrio perfeito entre doce e salgado, leveza e intensidade. Seguiram-se um dos meus produtos favoritos da cozinha italiana: flores de courgette (ou abobrinha) fritas. Neste caso com um recheio de queijo, como é normal na versão italiana, mas sem a adição, também comum naquela, das anchovas. Sentiu-se a falta destas ou de algo que cumprisse o seu papel de retirar alguma gordura ao prato. O polme e a fritura eram adequados, mas a minha exigência nessa matéria mudou muito desde que descobri o polme do chef britânico Heston Blumenthal, que até sifão usa para aumentar o ar e dessa forma oferecer uma crocância única aos fritos. Devia ser ensinado aos chefs do mundo inteiro, se bem que o risco é agravar ainda mais o consumo de fritos e, logo, os níveis de colesterol... 

Bons os croquetes de santola. Razoáveis as alcachofras, outro produto de que gosto muito e pouco usado entre nós, mas aqui servido de uma forma simples e não fácil para os muitos clientes para quem irá ser seguramente uma primeira experiência. Os dribles, bem sucedidos, resultantes de combinações inesperadas, voltaram numa raiz de aipo com queijo azul da Arrábida e pinhões e numa stracciatella (queijo italiano cremoso que é uma variação da mozzarella) com pêra cozida em vinho branco. 

Óptima, igualmente, a bruschetta. Uma torrada de pão esfregada com alho (aqui, como deve ser, apenas para aromatizar, sem dominar o prato), num caso com anchovas e pimentos e, no outro, com lingueirão e espargos brancos. Ambas plenas de sabor. Também se provou um “éclair de sardinha”, que, na verdade, era mais uma tosta de pão com sardinha. Agradável, mas sem novidade. Aquém da expectativa de surpresa que o nome do prato prometia. 

Sobremesas também de muito bom nível. Talvez a que menos me impressionou tenha sido o Layaly Beirut, variação de um doce libanês à base de leite (no original Layali Lubnan), que, fiel à tradição do Médio Oriente, não é tímido na doçura... Faltava algo que equilibrasse um pouco essa doçura. Já o sorvete de chocolate era quase uma mousse de chocolate de intensidade máxima, acompanhado por um crumble de chocolate que oferecia a textura necessária. Também muito bom o crumble de maçã com um gelado de caroço de maçã. Só faltou o crumble estar um pouco mais quente. 

No final de tantas provas, ficou apenas a sensação de uma certa repetição de sabores e abordagem. Mas é claro que a capacidade de oferecer sabor está lá e acho que o Garrincha vai tornar-se um jogador ainda mais completo. 

Serviço muito simpático e uma carta de vinhos promissora e diferente e que, aqueles, como eu, que não confundem patriotismo com gostar apenas de vinhos portugueses, vão apreciar. No geral, um nível elevado e, seguramente, uma das melhores relações qualidade/preço da cidade para quem quer sair da sua zona de conforto sem deixar a comida de conforto.

Detalhes

Endereço
Calçada do Poço dos Mouros, 83
Lisboa
1170-293
Preço
30€
Horário
Qui-Sáb 18.30-00.00, Dom 12.00-00.00
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