A Rua do Benformoso é o nosso bairro islâmico e eu sou fã de algumas das suas casas, onde se comem bons caris de borrego e doçaria caseira. Uma das novidades gastronómicas recentes, o Ghoroa, fica já perto do Intendente, numa travessa em direcção à Almirante Reis. Em tempos funcionou aí um café de junkies e prostitutas, que fazia muita gente mudar de passeio. Hoje está tudo mais calmo.
Bem arranjadinho, este restaurante indiano tem uma esplanada mínima e vende chamuças e pastéis de fígados de galinha para quem quiser comprar e levar. A outra opção é subir ao primeiro andar, onde está a cozinha propriamente dita e a sala de refeições.
À chegada, gostei da cozinha com balcão para a sala, do papadum estaladiço e sequinho e gostei dos bajhis, os típicos pastéis de farinha de grão e cebola. Depois seguiram-se dois bons caris: o madras de borrego e o vindaloo de vaca, ambos apurados e aromáticos. Pior o makhadi de camarão, com natas e insosso.
Qual foi o problema? O problema foi uma barata.
Dentro da singara, o tal pastel de fígados de galinha, estava uma barata já falecida. O empregado foi chamado para tomar conta da ocorrência e retirou o cadáver sem todavia mudar o prato. Seguiram-se extremosos pedidos de desculpa, veio à mesa o gerente e cozinheiro que garantiu que não voltaria a acontecer.
O episódio pode ter sido fortuito, mas é grave.
O restaurante tem publicidade e presença forte nas redes sociais. Basta ver que o Zomato lhe dá uma das pontuações mais altas de entre todos os restaurantes indianos de Lisboa.
Dito isto, há o perigo de olharmos para a barata e imaginarmos uma praga, digamos, marcadamente étnica. Errado. Por mim, continuarei a frequentar a Rua do Benformoso, onde sou feliz há muitos anos, sempre sem a presença de outros bichos que não os listados na ementa.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.