1. Grill n’Chill
    Mariana Valle LimaGrill n’Chill
  2. Grill n’Chill
    Mariana Valle LimaGrill n’Chill

Crítica

Grill n’Chill

5/5 estrelas
A melhor comida de rua nepalesa está no Nepal e no Chile, garante o crítico Alfredo Lacerda. Na Praça do Chile.
  • Restaurantes
  • Lisboa
  • Recomendado
Alfredo Lacerda
Publicidade

A Time Out diz

A circunstância de ser um comilão profissional deu-me a habilidade de reconhecer restaurantes bons. Há sinais que identificamos só de lhes passar à porta. Ora, não é o caso do Grill n’Chill.

Olhando de fora, o Grill n’Chill parece uma churrasqueira de urbanização moderninha do Cacém. À chegada, vê-se a esplanada sobre a Praça do Chile com merchandising de cervejeira desarrumado na calçada suja; e turistas na defensiva de volta de batatas fritas congeladas. Espreitando lá para dentro, as coisas não melhoram: tijoleira de plástico e quadros de plástico e plantas de plástico; um menu com “bifanas” e “frango grelhado”; e, claro, temos “Grill n’Chill” por todo o lado, nome apropriado a uma armadilha para turistas da Rua dos Douradores, não a um nepalês autêntico (e mudar para Grill n’Chile?).

Sucede que a minha amiga Miru, foodie natural do Nepal, não se engana. “É o nepalês do momento”, disse-me, sem hesitar, há umas semanas. E por isso eu entrei e voltei a entrar e continuarei a entrar. O Grill n’Chill é a melhor coisa que aconteceu à Praça do Chile desde a inauguração do saudoso Os Perus.

A minha estreia foi a um domingo, que é um bom dia para se lá ir, se queremos animação. Cinco minutos depois de me sentar na sala principal (tem também um terraço, nas traseiras), soube que Miru estava certa. Só famílias felizes de nepaleses à mesa, aproveitando a folga num país onde eles jogam sempre os 90 minutos, sempre no vermelho.

O coração da casa está no grelhador, ali à vista, mas o que impressiona é a energia que sai da cozinha, para onde conseguimos espreitar se estivermos na mesa certa. Num dia grande, como são sempre os domingos, em 10 m2 movimentam-se ali quatro pessoas, comandadas por uma mulher a quem será avisado não faltar ao respeito, alguém que imagino a subir os Himalaias em pino de braços com uma travessa de momos em cada pé, ao mesmo tempo que faz uma videochamada.

Da porta, saem travessas sem parar, transportadas por empregados que compensam entraves linguísticos com sorrisos largos e atenção ao serviço.

Uma refeição perfeita começa com três ou quatro entradas, passa por duas ou três cervejas Lukla (“The pride of Nepal”) e depois segue para os grelhados no carvão. O alinhamento pode começar com a chamuça de frango nepalesa – o recheio clássico, mais seco do que o das indianas, mas saborosíssimo, a massa estaladiça como vidro, sempre impecavelmente escorrida e, sobretudo, frita num óleo limpo.

(Temos um problema com fritos nesta cidade, neste mundo. Os restaurantes andam a concorrer com os carros no tempo de vida dos óleos, por causa da subida do preço. Esticar a vida de óleos vegetais é rebentar com o produto, com o sabor, com a saúde. Em Portugal, já se abusava disto. Agora, está um flagelo).

Ultrapassada a chamuça, chegam os pani puri. Pani puri é uma das comidas de rua mais comuns em todo o subcontinente Indiano, do Paquistão à Índia, passando naturalmente pelo Nepal. São bolinhas de pingue-pongue de massa de trigo fina e leve, com um buraquinho por onde se introduz chaat masala, batata condimentada com pó de especiarias, e através do qual, já na mesa, se derramam colherzinhas de caldo servido à parte, aromatizado com tamarindo, cebola roxa e coentros.

Obrigatório é ainda o chatpat, que pode acompanhar o resto da refeição, outro snack de street food vendido em cones de papel como se fossem castanhas assadas. O chatpat do Grill n’Chill vem no prato e tem quase tudo o que pode entrar num chatpat. O ingrediente central é o arroz tufado, mas na mistura cabem muitas mais coisinhas, desde pedacinhos de noodles instantâneos secos, malagueta verde fresca, grãos, ervilhas, cebola e pickles, tudo picado e regado com sumo de citrinos. Uma festa de coisas estaladiças, picantes, doces, amargas e ácidas.

No que respeita aos momos, os raviólis nepaleses, também ainda não conheci outros tão bons. Sugiro que peçam um mix deles, que inclua os com caldo e os fritos. Para o fim, ficam as sekuwa ou espetadas. As de frango são preciosas, marinadas em iogurte, o exterior bem tostado, o interior escorregadio, trinca-se e há pessoas que reviram os olhos a cada dentada como em clímaxes descontrolados, como devem ser os clímaxes. As espetadas de porco, por sua vez, são feitas de dardos grossos de entremeada, cheios de toucinho, uma gulodice gorda.

Nas sobremesas, há bom kulfi, o gelado de manga e cardamomo, e um gulab jamun (bolinhas de leite fritas, imersas em calda de açúcar) que bate os da Rua do Benformoso.

Em síntese. Quem acompanha esta coluna, sabe do meu apreço por nepaleses, nomeadamente deste tridente: Casa Nepalesa para cozinha elegante e cuidada; Love Lisbon para fazer a festa; e este Grill n’Chill para comermos e bebermos como se estivéssemos numa rulote em Katmandu, acompanhados do povo mais sorridente do mundo.

Detalhes

Endereço
Praça do Chile 6
Lisboa
1000-098
Preço
10€-20€
Horário
Seg-Dom 12.00-00.30
Publicidade
Também poderá gostar
Também poderá gostar