É preciso boa vontade para falar em restaurantes secretos nos dias que correm. É certo que continuam a existir alguns sítios clandestinos, alguns restaurantes menos falados (ou que querem ser menos falados), outros mal divulgados, mas secretos-secretos, na era da internet, admita-se, há poucos. Este Il Covo, restaurante para cima de informal na Madragoa, entra na categoria dos “não secretos, mas pouco divulgados”. Deve-se isso ao facto de estar na Rua do Cura (já ouviu falar? Pois...), perpendicular à Rua do Guarda-Mor (já ouviu falar? Pois...), numa zona onde há mais jovens a beber copos na rua, do que à procura de uma verdadeira refeição italiana – eles é que perdem.
Mas mesmo sendo o nome Il Covo uma tradução directa para “covil”, este esconderijo parece querer ser descoberto. O primeiro convite é logo a mesa redonda da entrada, onde o dono, Luca Salvadori, faz pasta fresca todos os dias entre as 16.00 e as 19.00. “Se quiser aprender, passe cá a essas horas”, convidam. O segundo, e mais importante, é a qualidade do que servem: boa comida italiana, caseira e feita com matéria-prima de qualidade.
Falo por exemplo de uma bolonhesa alentejana, sugestão de Carolina, que recebe e atende os clientes, enquanto Luca está na cozinha. Um spaghetti fresco misturado com um ragu com bochecha de porco, muito saboroso, muito apurado, ainda com pedaços de carne a desfazerem-se com o garfo. Excelente. Falo também do tiramisù feito na hora, num carrinho em frente aos clientes, qual crêpe Suzette. A mistura de ovos e açúcar já vem batida da cozinha, os palitos de la reine são molhados ao de leve no café, e em cima vem chocolate preto esmigalhado em pequenos pedaços. O resultado é uma sobremesa doce q.b., cortada pelo chocolate, cremosa, e ainda com os palitos a estalarem quando se trinca – fruto de a comermos uns 10 segundos depois de finalizada.
E posso continuar a viagem pela carbonara, a verdadeira receita italiana, com tagliatelle fresco, ovo, queijo e guanciale – um tipo de bacon feito com a carne entre a bochecha e a garganta do porco – levemente tostado nas bordas. Uma delícia. Ou pelo vitello tonnato, aqui ligeiramente alterado, com carne do lombo (em lugar da carne de vitela) cozinhada a baixa temperatura durante nove horas, o molho de maionese e atum no ponto.
Muito daquilo que se prova, contudo, pode não estar na carta. Os pratos de peixe, explicam, dependem daquilo que o mar da Costa da Caparica, onde Luca vive, dá. Há sempre mais pastas para além das que vêm na ementa, que podem ser pedidas com spaghetti da marca DaCecco, uma das melhores de Itália (a tornar a refeição mais barata) ou com a pasta fresca, a tal feita ao momento todos os dias. Nas entradas, chega à mesa uma tábua com vários petiscos, e só se paga aquilo que se come. No caso, o vitello tonnato, um óptimo salmão selvagem cozinhado numa marinada e um queijinho de Azeitão com passas, para combinar com mel e gressinos.
Resumindo, este é um sítio para: se deixar ir mais na onda das sugestões da casa do que propriamente para entrar com ideias pré-feitas do que vai comer; ir descontraído, sem pressas; escolher um dos vinhos italianos ou portugueses da prateleira (apesar de haver lista, claro); ouvir boa música italiana e, sempre um bom indício, gente a falar italiano; levar dinheiro vivo porque não há multibanco – uns 25/30€ por pessoa; e usar o GPS em Lisboa, porque é difícil chegar à Rua do Cura à primeira.
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