1. Il mercato
    Fotografia: Manuel Manso
  2. mozzarela do il mercato
    Fotografia: Manuel Manso
  3. il mercato, massa, pasta
    Fotografia: Manuel Manso
  4. Il mercato, presuntos
    Fotografia: Manuel Manso
  5. Il Mercato
    Fotografia: Manuel Manso

Crítica

Il Mercato

4/5 estrelas
Fomos ao mais recente restaurante de Tanko Sapoka e descobrimos yuppies, tailleurs e as melhores massas italianas de lisboa
  • Restaurantes
  • Avenida da Liberdade/Príncipe Real
  • Recomendado
Alfredo Lacerda
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A Time Out diz

Crítica

Desde que o il Mercato abriu, em Fevereiro, que a imprensa citava como grande atractivo
 do sítio a mozzarella Barlotti, de Salerno, que chega de avião duas vezes por semana. Nas duas primeiras visitas não tive sorte nenhuma (“está esgotado”), mas à terceira foi de vez.

Ei-la, por fim, uma bola de bilhar branquíssima sem mais nada. Assim que a trinco, um líquido aguado liberta-se do miolo esponjoso, e nota-se logo a acidez e o leve adocicado do leite de búfala. É, de facto, outra coisa, mas quem está habituado aos exemplares de supermercado, para além de acusar o preço (11,95€) vai estranhar a consistência rija e fibrosa.

Por sua vez, a burrata di Andria, da afamada região de Puglia, viaja menos que a sua prima, mas é igualmente extraordinária. Dentro da capa de mozarela esconde-se um recheio de natas lânguidas que se espalham na boca como uma nuvem e enviam drogas boas para o cérebro. Para comer em dias de sol, na esplanada, juntamente com a focaccia da casa e um branco italiano, que até pode ser um Pinot Grigio.

Despachadas as entradas, o melhor ainda está para vir. Dias antes, já tinha experimentado algumas das massas frescas (há nove, feitas diariamente), todas boas, mas nessa noite ao jantar provo finalmente o tagliatele verde de camarão. A massa está ligeiramente elástica e cozinhada um pouco acima do nível al dente, envolvida num molho suave de natas (e sálvia, pareceu-me), com pequenos troços de espargos verdes crocantes e camarões.

[Intervalo no cardápio. Falemos de camarões. Hoje em dia é difícil comer um camarão decente. Um terço sabe a fénico, outro terço não sabe a nada, o outro terço estragou- -se no processo de congelação/ descongelação. Ora, os camarões do Il Mercato são os melhores
que comi em muito tempo. Uma maravilha, a lembrar quando
os amigos e a família traziam caixas deles de Moçambique. De tamanho grande, descascados na perfeição, sem vestígio de tripa nem esfarelados, cozinhados no ponto, as cabeças alinhadas à beira do prato para serem chupadas uma a uma. Não os esquecerei tão cedo.]

À carta, provam-se ainda os escalopes de vitela com cogumelos (scaloppine funghi), a carbonara para crianças (com massa escolhida no momento, bem boa, que também lá fui), um crumble de maçã, tudo de grande nível, com bons produtos.

Nos dois almoços que precederam este jantar, comeu-se sempre o menu de almoço (11,95€), que inclui uma entrada (que pode ser um crudo ou mozarela com tomate e azeite), focaccias e a degustação de três pratos. Houve um pouco de tudo, desde uma simples bolonhesa (muito bem feita), a um medalhão de vitela com alecrim cozinhado a baixa temperatura, tenro e saborosíssimo.

Nas sobremesas, provaram-se os bestsellers todos. Nota altíssima para a mousse de chocolate e para o tiramisu.

Pontos fracos: a decoração e o serviço.

O restaurante fica no Páteo Bagatela, uma espécie de sonho arquitectónico falhado dos
anos 90, de que gosto bastante. Sobretudo ao almoço, é aquele sítio de Lisboa onde ainda há yuppies e onde ainda há tailleurs, muitos tailleurs, sempre com uma tia ou outra das Amoreiras por perto. Quanto à decoração do Il Mercato, na verdade, não tem nada de mal, mas parece tudo um bocadinho artificial, decoração de decorador, sem personalidade, a começar na ideia de ter uma banca com produtos italianos (e não um mercado, como se tem vendido...) dentro do restaurante, coisa que não é nem original nem parece pegar.

E uma das razões pelas quais não parece pegar é culpa do serviço. Os outros restaurantes do empresário Tanka Sapkota, o nepalês mais popular de Portugal, apaixonado por comida e conhecido por ser dono do Come Prima e do Forno d’Oro (também abriu com o irmão o excelente Casa Nepalesa), sempre tiveram este problema. No caso, talvez porque o Il Mercato tem pouco mais de três meses, as falhas são ainda mais evidentes. Há dois ou três empregados razoáveis, um de óculos excelente, mas os restantes são inexperientes ou não conseguem sequer comunicar em português.

Faltou, por exemplo, promover à mesa as coisas boas que se vendem na loja – nos queijos, do Parmigiano Reggiano Vacche Rosse ao pecorino La Fossa dell’Abbondanza, na charcutaria
o Culatello di Zibello DOP e a mortadela de Bolonha IGP com pistáchios, entre muitas outras coisas, como vinagres ou risotos. Só mais tarde soube, por exemplo, que se podem comprar os produtos e consumir logo ali.

Dito isto, vale muito a pena, sobretudo ao almoço se apanhar um dia de sol na esplanada. Os produtos são originais e excelentes e as massas clássicas, sem invenções. Das melhores que se comem por Lisboa.


*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Detalhes

Endereço
Páteo Bagatela, Rua da Artilharia 1, 51
Amoreiras
Lisboa
1250-038 LISBOA
Preço
Até 30€
Horário
Ter-Sex 12.00-15.00/19.00-23.00, Sáb-Dom 12.30- 15.00/19.00-23.00
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