1. Imperial de Campo de Ourique
    Mariana Valle LimaO Sr. João da Imperial de Campo de Ourique
  2. Restaurante, Cozinha Portuguesa, Imperial de Campo de Ourique
    ©Inês FélixImperial de Campo de Ourique
  3. Restaurante, Cozinha Portuguesa, Imperial de Campo de Ourique
    ©Inês Félix Imperial de Campo de Ourique
  4. Restaurante, Cozinha Portuguesa, Imperial de Campo de Ourique
    ©Mariana Valle LimaImperial de Campo de Ourique
  5. Imperial de Campo de Ourique
    Mariana Valle LimaA taberna Imperial de Campo de Ourique é agora uma Loja com História

Crítica

Imperial de Campo de Ourique

4/5 estrelas
  • Restaurantes | Português
  • preço 1 de 4
  • Campo de Ourique
  • Recomendado
José Margarido
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A Time Out diz

O meu amigo diz que o Sr. João lembra o Manuel, da série Fawlty Towers. O meu amigo tem uma certa propensão para a palermice e às vezes cansa-me trazê-lo nestas expedições, porque passa o tempo com observações espertalhonas que nada dizem sobre a comida. Mas pronto, é meu filho, tenho obrigação de o alimentar, e o gaiato lá tem a sua razão. Além de uma vaga parecença física com o empregado catalão de John Cleese, o Sr. João tem a mesma simpatia solícita, a mesma graça no passo apressado, o mesmo bom humor sem concessões aos dias maus. Recebe desconhecidos como novos amigos e eu, que há vinte anos frequento a casa sem assiduidade, sinto sempre que regresso da véspera. “A esposa está boa? E o menino, hoje não vem?” Vem sim, Sr. João. "Ó palerma, anda dizer bom dia às pessoas!”

Hoje venho pela chanfana e o meu amigo vem esganado pelo que houver. A grande ardósia que anda de mesa em mesa costuma oferecer umas oito escolhas, metade com patas, outra com barbatanas. Ainda ponderamos a costeleta de novilho (13,50€), uma peça de proporções minhotas trabalhada na grelha; namoramos o cozido, que guardo na memória pelos bons enchidos e as belíssimas couves (10€); micamos o bacalhau à moda do Minho (14,50€), em lascas entremeadas de colagénio a testemunhar o preceito da demolha.

Mas acabamos a dividir umas iscas (9€), prato frequente do dia, e depois então a cabra, que a Dona Adelaide só faz sair à sexta e ao sábado. Na mesa aterrou já um cestinho de bom pão caseiro, óptimas azeitonas verdes, e um tinto simpático que vem de Monforte e chega na temperatura certa. Pouco passa do meio-dia de sábado e já vai lotando a sala do fundo, que sempre conheci assim ampla, à prova de covids e de alcoviteiros, mas que agora guarda ainda mais folga entre mesas.

As iscas vêm de cebolada e, excepcionalmente, com batata frita, que a chanfana já há-de trazê-la cozida. O fígado em fatias finas qb, bem temperadas com alho, louro e tempo de sobra, e um toque de vinagre a equilibrar bem a gordura inevitável de uma peça de porco na frigideira, que acabou limpa a golpes de pão.

Passamos então ao prato que aqui me trouxe e que nada diz sobre Ponte da Barca, de onde este casal migrou para abrir uma das melhores tascas desta cidade. Antes, o Sr. João mandava vir a cabra da Serra da Lousã, terra da chanfana. Hoje, encomenda-a da Serra Amarela, que é a terra dele. Mas a procissão do bicho mantém-se. “Terça-feira deitamo-la com um tempero. Na quarta o tempero vai fora, pomos outro. E assim fica à espera. Vai para o forno umas três horas para servir na sexta, mas fica mesmo boa é no sábado.” Confirmo. A dose (14,5€) chega num tachinho enganador, a chicha apurada e meiga a despegar do osso. No fundo, impecáveis batatas cozidas com travo a nabo (foram roubadas ao cozido), no topo uns pequenos brócolos cozidos no ponto, que dão um ar saudável e fazem as vezes dos grelos que seriam a verdura certa para o conjunto.

À saída, o mesmo entusiasmo da chegada. O Sr. João anda a arregimentar amigos para o ajudarem na candidatura ao programa Lojas com História. “É só mandar um e-mail e dizer o que acha de nós, com sinceridade. Prometa-me que faz isso.” Prometo que sim e o meu amigo promete que me há-de azucrinar o juízo todos os dias até que eu o faça. Um de nós ainda não cumpriu.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Detalhes

Endereço
Rua Correia Teles, 67
Lisboa
1350-094
Preço
Até 20€
Horário
Seg-Sex 08.00-22.00, Sáb 08.00-16.00
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