Lembram-se do tempo em que dizíamos que as melhores pizzas de Lisboa eram as do rio, sem pestanejar?
Pois bem, passaram umas décadas e hoje temos de pensar para responder. Continuo a gostar muito das pizzas do Casanova, mas entretanto apareceram rivais – muitos.
As pizzas do Casanova fizeram escola. Eram pizzas clássicas, bem feitas, com bom produto e equilíbrio entre levedura industrial e fermentação natural – e deram lugar a vários casanovinhas, que se espalharam pela cidade.
Hoje, essa tendência parou. Há uma nova receita. Usam-se fermentações mais prolongadas da massa, de 48 ou 72 horas, que fazem uma massa saborosa, mais ácida, nos melhores casos estaladiça, mais parecida com um pão – um bom pão –, fina ao centro e grossa nos rebordos.
Outra das novidades das novas pizzas são os toppings. E aqui vale tudo, incluindo ananás. Desconfio que se perguntasse a Maria Paola Porru, a diva italiana que fundou o Casanova (longa vénia), o que acha da pizza de ananás, ela responderia com uma expressão de nojo.
E, no entanto, a pizza de ananás tornou-se numa espécie de pizza-punk, ou melhor, pizza-indie, como uma versão de Quim Barreiros por B-Fachada, uma coisa vanguardista e alt, um statement.
Um dos fornos que lidera a tendência é o do Lupita, no Cais do Sodré, que trouxe os vinhos naturais e a tarte de queijo para as pizzas – e que se formou com o consultor norte-americano Anthony Falco, conhecido pelo trabalho à frente do restaurante Roberta’s, uma instituição de Brooklyn. Mas foram surgindo outras.
É o caso deste Jezzus. É certo que lhe falta a coolness do restaurante da esquina da Rua de São Paulo e, apesar de bem arranjado, a sala é um corredor em tons de cor-de-rosa fechado nas traseiras. Mas as pizzas estão cheias saúde, de twists, de pastiches e outras figuras de estilo.
Nalguns casos, são mesmo só figuras de estilo. Numa primeira visita, fui pela pizza de camarão ao alhinho e fui mal. Camarão rijo, bonito mas branquinho, alhos sem frescura, e o todo adocicado. Adocicada estava também a pizza Oh Diabo, versão da pepperoni, aqui com chouriço ibérico banhado num chutney de mel e malagueta.
Numa segunda visita, à noite, a coisa melhorou. Provaram-se a Margherita, a Presunto e a Oh, Pear. Todas bem feitas e saborosas, com combinações de sucesso: rúcula, pistáchio e presunto de porco alentejano (bom presunto), na de Presunto; pêra, queijo de cabra e amêndoa, na Oh, Pear.
Quanto a sobremesas, há uma tarte de queijo – essa serradura do século XXI –, um doce que nunca causa tristeza, mesmo quando não está perfeito, como foi o caso. Mais surpreendente a “cookie” de cacau, numa versão servida no tachinho de ferro onde assou, dengosa por dentro, com uma bola de gelado de baunilha ao lado (comercial).
As bebidas têm um pé no convencional, com uns toques de modernidade e arrojo. No caso dos vinhos, há desde Quinta da Boavista a Quinta da Pellada, baixa intervenção sem funkie.
Serviço simpático, mais afinado na visita ao jantar do que ao almoço.
Em síntese. O Jezzus entrega boas pizzas de fermentação natural, com produto de qualidade. Preços inflacionados (a média das pizzas andará pelos 15€), sobretudo tendo em conta as limitações do espaço.