1. JNcQUOI Delibar
    Arlei Lima
  2. JNCQUOI
    Fotografia: Arlindo Camacho
  3. JNCQUOI
    Fotografia: Arlindo Camacho
  4. JNcQUOI Avenida
    Henrique Isidoro | Salada russa de ventresca em conserva e atum fresco
  5. JNcQUOI Avenida, Filipe Carvalho
    Henrique Isidoro | Filipe Carvalho
  6. JNcQUOI Delibar, António Bóia
    Arlei Lima | António Bóia
  7. JNcQUOI
    Arlei Lima | Burrata DOP com lavagante
  8. JNcQUOI Avenida
    Manuel Manso
  9. JNcQUOI Avenida
    Manuel Manso
  10. JNcQUOI Avenida
    Manuel Manso
  11. JNcQUOI Avenida
    Manuel Manso
  12. JNCQuoi
    ©DR | JNCQuoi

Crítica

JNcQUOI Avenida

5/5 estrelas
O balcão mais fancy da Avenida é um dos lugares mais procurados da cidade. Mas Alfredo Lacerda garante que também é um dos sítios onde melhor se come e bebe.
  • Restaurantes
  • preço 4 de 4
  • Avenida da Liberdade
  • Recomendado
Alfredo Lacerda
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A Time Out diz

À chegada, o porteiro certifica-se de que há lugares. “Duas pessoas, ao balcão”, atira para o auricular, os olhos continuando a varrer a fauna da Avenida da Liberdade, um misto de turistas carregando bolsas da Michael Kors e famílias portuguesas em passeio de fim de tarde.  

São apenas 18:30, mas no universo do JNcQUOI a agitação já é grande. Aliás, se falarmos do restaurante Avenida, no piso de cima, a agitação não pára. 

Tentara reservar para o Avenida, na semana entre o Natal e o fim de ano, e só me atribuíram uma mesa às 14.30, através do site. Passados 30 segundos, recebi uma chamada da encarregada de reservas: “Infelizmente, a essa hora, só se for na esplanada. Lá dentro, temos mesa apenas às 17.30.”

Naaaa. Comer às 17.30, seja onde for, não é almoçar. Chama-se lanchar. E lanchar na esplanada do Avenida é como ir ao Louvre ver a Mona Lisa e não passar da loja do museu.

Como é que chegámos aqui? Como é que, em pouco mais de meia dúzia de anos, a marca JNcQUOI, um player recente, constrói um império de restaurantes esgotados, onde se paga acima de 100 euros por cabeça? Com capital do grupo Amorim, naturalmente. Mas não só.

Já tinha ido ao Avenida. Em 2017, escrevi uma crítica sobre o restaurante, nesta revista. Fui rever esse texto e acho que ele se mantém actual. A crítica – elogiosa – estava estruturada em dez máximas para criar um restaurante da moda. Entre elas, estava o uso de um sistema de reservas que fosse complexo e demonstrasse quão especial é lá comer. 

Esqueci o JNcQUOI Avenida e investi no JNcQUOI Delibar, que não aceita reservas. No Delibar, o porteiro, vestido a rigor, alertou o staff para a nossa chegada, um trajecto de uns dez metros e uns quantos degraus até à subcave do edifício Tivoli. 

Entrámos no Delibar e tínhamos dois lugares no balcão de mármore branco, mas de costas para a saída. A empregada que nos veio receber, sorridente, podia ter gastado logo esses dois assentos, mas achou por bem procurar vagas mais confortáveis, no lado oposto da barra ziguezagueante. 

Nem sempre é assim. Alguns empregados gostam de premiar quem chega depois, guardando os melhores lugares como quem reserva a gema do ovo estrelado para o fim.

Ora, no Delibar os melhores lugares são para os primeiros a chegar e assim é que deve ser. Sejam eles o homem de chapéu à cowboy que se senta ao meu lado. A mulher bebericando um Moët & Chandon, à minha frente. Ou o jovem a quem o sommelier sugere um copo de uma magnum de 5 litros, sem preço na carta:

  • Quanto custa? - pergunta o empreendedor.
  • 50 euros. - atira o sommelier.
  • Só um copo? - certifica-se o empreendedor.
  • Só um copo.  - confirma o sommelier.
  • Pode ser. - assente o empreendedor. 

No Delibar, há também lugar para o jornalista, ex-pivô da TVI, a meio do balcão. Para a família em celebração de aniversário, ao fundo, lambuzando-se com a travessa do royal de marisco (lavagante, ostras, caranguejo do Alaska, camarões). E há lugar para nós. 

Ficámos do lado da cabine da DJ (tenho ideia que é sempre uma DJ, nestes restaurantes fancy), situada na zona das casas de banho. É uma configuração inusitada. As casas de banho são pequenos alvéolos (não binários) dispostos em círculo, com a cabine da DJ ao centro, a marcar um espaço de dança imaginário (ou não, não estava lá no final da noite). Às tantas, dá a ideia de que a DJ faz também a função daquela senhora que vemos à porta das W.C de algumas estações de transportes públicos. Na dúvida, não lhe dei uma moeda. 

Casas de banho ok: espaçosas, torneira com pedal, espelho, boa loiça. Todavia, a música da DJ, uma quarentona loira acelerada, gritava festa, porventura demasiado alto: electrónica para abrir pistas, remixes de Gipsy Kings, música boa para soltar as lantejoulas das tias, mas excessiva para quem tinha o foco nos pastéis de bacalhau.

E que pastéis de bacalhau. É difícil encontrar bons pastéis de bacalhau, em Lisboa. Recentemente, só me lembro de ficar agradado com os do Canalha. Estes talvez fossem ainda melhores. Eram à maneira dos bolinhos do Porto, absolutamente perfeitos, com os fios do bacalhau desfiado, batata na medida certa, salsinha picada, e uma crosta fina com a textura de um casulo denso, a mostrar cuidado com a temperatura e com a qualidade do óleo. 

Não foram baratos os pastéis, 3,90€ a unidade. Mas também não foram um escândalo, se nos lembrarmos do preço dos primos com queijo da Serra, nas lojas da Baixa. Foi, aliás, assim com tudo. No Delibar é tudo caro, mas não vi nada escandaloso, tirando talvez o café e os vinhos a copo. 

Há um preço a pagar por alguns extras, entre eles o de podermos escolher pratos também do Avenida e usufruir das mesmas comidas e serviços de quem está sentado no andar de cima. A cozinha é partilhada, os sommeliers são os mesmos, os chefs idem. 

Vi ali perto, por exemplo, Ivo Peralta, para alguns o melhor sommelier de Portugal, director de vinhos do grupo Amorim Luxury, dono dos JNcQUOI. E na cozinha passou a oficiar Filipe Carvalho, ex-chef do Fifty Seconds (uma estrela Michelin) – debaixo da alçada do comandante de sempre, António Bóia –, que irá manter-se no Avenida enquanto o JNcQUOI House estiver a ser construído. 

Não terá sido necessário recorrer a Filipe Carvalho para abrir as ostras (3 unidades, 9€, justo; vindas da Aquanostra), mas eram de qualidade, calibre 3, estavam frescas e sem detritos da abertura das conchas. No prato das anchovas, encantou sobretudo a torrada a acompanhar, que parecia brioche de forma tostado na manteiga; e destacaria também o azeite onde os filetes das anchovas nadavam, acima da média. 

Já o bife com pimenta era um naco de lombo alto, escondido num molho espesso e natoso temperado com pimenta preta, muito aromática. Tudo impecável, acompanhado de uns palitos grossos de batata com dupla fritura e umas ervas aromáticas secas. 

Nesta altura, já nós bebíamos dos nossos copos de tinto, escolhidos de uma lista interessante de vinhos a copo, com preços excessivos – como é da praxe. O preço dos tintos a copo do Roquette & Cazes 2021 e do Sidónio de Sousa 2018, escolhas moderadas, era quase o mesmo ou superior ao preço de ambas garrafas no comércio, onde custam entre os 13€ e os 22€. Mas tudo bem, mesmo se o vinho estava menos fresco do que eu gostaria.

A maior desilusão da noite foi a sobremesa, uma versão de tiramisù em gelado, gostoso e tecnicamente competente, mas com problemas lexicais. Vejamos. Se é gelado, não é tiramisù. Se não tem bolacha nem bolo, não é tiramisù. Chamem-lhe gelado de café e mascarpone. O que quiserem. Não tiramisù. Tiramisù tem de ser uma coisa cremosa e esponjosa. É essa a sua essência. 

Isto, contudo, é pegar em minudências, como também será o excesso de trufa na carta (julgo ter contado cinco pratos) ou o uso de alguns ingredientes fora de época (exemplos: os espargos brancos, agora na Primavera é que são dos frescos bons; ou o tomate na sopa de tomate com robalo e ovo escalfado). 

Pouco depois do tiramisù já estava tudo esquecido. Há uma lista de queijos bons, não estratosféricos, mas bons. Veio um Comté correto, bem cortado, acompanhado por umas tostas de pão de Mafra crocantes e de doce de abóbora, impecável. 

Em síntese. Gastei 100 euros, sem me esticar, nas bebidas só um negroni e um copo de vinho. Mas comi muito bem. Dificilmente, como e bebo com esta qualidade noutro restaurante em Lisboa, seja porque preço for. E depois há o ambiente. Podemos gostar mais ou menos da remix do Bamboleo, de exibicionistas e novos-ricos, mas o balcão do Delibar é um sítio colorido onde há sempre alguma coisa – alguma pessoa, alguma peça de roupa, alguma frase – que nos entretém. 

A provar que não sou o único a pensar assim, à saída, a fila de espera para um lugar no Delibar já era grande. E parece-me que não era gente rechaçada do irmão Avenida, mas clientes habituais que preferem a subcave ao salão nobre. Eu sou pessoa para alinhar nisso. Grande balcão. 

Crítica publicada inicialmente na edição de Inverno da Time Out Lisboa

Detalhes

Endereço
Avenida da Liberdade, 182/184
Lisboa
1250-096
Horário
Dom-Qua 12.00-00.00, Qui-Sáb 12.00-02.00
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