Todos os grandes conceitos de restauração importados de Itália trazem um problema (ou uma dificuldade de execução): a massa. É facílimo mandar vir bons presuntos de Parma, queijos DOP do país inteiro, enlatados de tomate de qualidade, mas nem toda a gente consegue acertar na consistência das pizzas, das focaccias e, percebi agora, das piadinas. A massa não pode embuchar, tem de dobrar bem sem partir ou esfarelar, funcionar a quente, aguentar a frio e, importante também, ter um leve sabor, ou sal, pelo menos.
O La Bottega Piadina sofre desse mal. A massa caseira, chegando à mesa aquecida pela chapa, torna-se dura com alguma rapidez e é, de certa forma, insípida – falta-lhe sabor. Sabor esse que podia ser dado pelos recheios, mas nem todos eles chegam para equilibrar o prato. Exemplifique-se. O conjunto de piadina + ingredientes corre benzinho na Mare, com stracchino, salmão fumado e rúcula, temperado a gotas de limão, o queijo a derreter no pão; é bom na Bottega, com queijo provola fumado, presunto e rúcula, graças ao sabor dos dois primeiros produtos e à acidez do molho balsâmico; é agradável no Grana, com grana padano, presunto, tomate, rúcula e balsâmico, novamente a ganhar todo o sabor no queijo; e é fraco na Rurale, com mozzarella, fiambre de peru, tomate e cogumelos enlatados, talvez a escolha pior de todas. Onde funciona melhor é mesmo na piadina de Nutella. A sério.
Note-se que, apesar de tudo, para um almoço ou um jantar rápido e barato (10€ por pessoa) pelo Chiado, o La Bottega Piadina não faz má figura. Podia era arriscar mais nas combinações. E trabalhar a massa.
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