1. Laranja Tigre
    Francisco Romão Pereira Laranja Tigre
  2. Laranja Tigre
    Francisco Romão Pereira Bebinca
  3. Laranja Tigre
    Francisco Romão Pereira
  4. Laranja Tigre
    Francisco Romão Pereira
  5. Laranja Tigre
    Francisco Romão Pereira Baji-puri de batata-doce de Aljezur
  6. Laranja Tigre
    Francisco Romão Pereira Xec xec de caranquejo de casca mole
  7. Laranja Tigre
    Francisco Romão Pereira Caril de camarão tigre

Crítica

Laranja Tigre

4/5 estrelas
A nova cozinha goesa pode estar a nascer. Alfredo Lacerda viajou até ao Bairro Alto para a conhecer.
  • Restaurantes
  • Bairro Alto
  • Recomendado
Alfredo Lacerda
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A Time Out diz

Temos dois ou três bons restaurantes de cozinha goesa tradicional, não tantos quanto devíamos. A cozinha goesa é uma pérola da gastronomia mundial, um híbrido extraordinário da culinária indo-portuguesa – e, se eu mandasse, no lugar de cada indiana manhoso instalava uma casa de sarapatel.

Foi isso, precisamente, que fez este Laranja Tigre, ocupando o lugar do Calcutá, ali ao pé da Praça Luís de Camões. Durante a minha juventude, o Calcutá serviu bem o propósito de nos forrar o estômago a tikka masala antes de ele se intoxicar de uísque espanhol servido em copos de plástico nos buracos do Bairro Alto. 

Mas muita coisa mudou em 25 anos e, neste caso, para melhor. O Laranja Tigre agarrou na memória boémia do Calcutá, juntou Goa e Lisboa, acrescentou uns toques de chef aqui, bom produto português ali, abanou, girou e serviu algo próximo do que seria um goês de autor. 

No caso, o autor é conhecido nas lides gastronómicas da cidade por ser um fã de cozinha asiática. Hugo Brito, que desenhou a carta e tem acompanhado a casa, é o chef do Boi-Cavalo, projecto em Alfama que se auto-intitula de “contemporary portuguese restaurant for adventurous eaters” e regista, como última entrada no Instagram, um prato de “Faisão, Lao Gan Ma e molho de Bolo-Rei”. 

Do que conheço de Hugo Brito, acho que um goês de autor lhe assenta bem, porventura até melhor do que o “contemporary portuguese”, e só tenho pena que a sua intervenção no Laranja Tigre não seja, porventura, tão presente quanto o projecto merecia. 

Fiz lá duas refeições, uma ao almoço, a meio da semana, outra numa quinta-feira ao jantar. Em ambos os dias, a sala estava quase vazia, o que pode ser preocupante, mas não será trágico, porque Janeiro é, quase sempre, um mês fraco para a restauração. 

Ao almoço, abriu-se com chamuça de frango, a massa estaladiça e a fritura limpa, o recheio ao estilo da empada, com a carne em fiapos e troços, saborosa e surpreendente, a acompanhar um chutney maravilhoso, cheio de vida, com o coco sem enjoar. Ao mesmo tempo, chegou a pakora de camarão, pedaços envolvidos em massa frita, tudo para ser banhado numa semi-maionese à Bulhão Pato – loucura boa, ainda que o marisco estivesse um pouco rijo e borrachoso. 

Nos principais, sarapatel bem feito, tradicional, sem grandes invenções, e um vindalho de cachaço de porco preto, belíssimo, mesmo se o bacon no topo fosse desnecessário, que o prato já tem gordura porcina que chegue. 

Nas sobremesas, provou-se uma mousse sem grande história. 

Numa segunda visita, bolachas de massa de chamuça, em modo de entretém, viciantes, a abrir portas às entradas de bojés e de baji puri de batata doce de Aljezur. Bojés maravilhosos de massa de farinha de grão, aqui em paralelepípedos (pena o chutney de coentros estar desequilibrado e amargoso). Os baji puri eram bolinhas ocas de massa trigueira finíssima, a batata quase em puré denso, espevitada por gengibre e sementes de mostarda, muito bom. 

Nos principais, comeu-se um dos pratos mais instagramados, o caril de camarão tigre. Os bichos servidos em espetos sobre o caril, numa bonita encenação, não tão prática assim. Sobre o sabor: maravilhoso o caril, ligeiramente atomatado, mas com o suco marisqueiro harmonizado com as especiarias; os camarões sem darem muito sumo nem umami, ligeiramente secos.

No prato vegetariano, um caril de couve-flor de base bem diferente, a demonstrar a versatilidade da cozinha goesa, com muitas notas a sementes de mostarda. Pena a couve-flor estar num ponto de cozedura perfeito, mas com notas a sopa com piquinho, se me percebem. 

Nas sobremesas, foi-se pela bebinca, clássica, casamento notável de ovos e especiarias, aqui num belo exemplar fornecido por uma das grandes produtoras da cidade. 

Em síntese. O Laranja Tigre é das melhores coisas que aconteceram no Bairro Alto e merece uma visita. Há falhas que chateiam e gostava de ver Hugo Brito a tratar de dar mais consistência à casa e, porventura, ainda mais picante e texturas. 

Detalhes

Endereço
Rua do Norte 17
Lisboa
1200-283
Preço
15-25€
Horário
Ter-Dom 12.00-00.00
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