1. Las Dos Manos
    Fotografia: Mariana Valle LimaLas Dos Manos
  2. Las Dos Manos
    Fotografia: Mariana Valle LimaAl pastor de secretos de porco preto e ananás (7,30€)
  3. Las Dos Manos
    Mariana Valle Lima
  4. Las Dos Manos
    Mariana Valle Lima
  5. Las Dos Manos
    Mariana Valle LimaAguachile com sashimi de lírio e gamba do Algarve (22,40€)
  6. Las Dos Manos
    Mariana Valle Lima

Crítica

Las Dos Manos

3/5 estrelas
É apresentado como o mexicano-japonês do chef Kiko, mas Alfredo Lacerda saiu de lá a sentir mais sal que salero.
  • Restaurantes
  • Bairro Alto
  • Recomendado
Alfredo Lacerda
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A Time Out diz

Antes de me fazer ao Bairro Alto, tinha lido dois textos de blogues de comida sobre o sítio. Eram ambos laudatórios: elogios ao conceito, à criatividade, à decoração e a tudo. O chef Kiko Martins voltava a surpreender. 

Com tamanha publicidade, achei melhor ligar a reservar. Em vão. Aqui, senta-se quem chega primeiro – e eu fui o primeiro. Eram 12 horas e 15 minutos de um dia de semana quando me instalei no balcão do restaurante, junto ao Miradouro de São Pedro de Alcântara. 

Lá dentro, Frida Kahlo ao fundo (restaurante mexicano sem Frida não é restaurante mexicano), cor e drama, tudo bem pensado, como é costume nos restaurantes do chef Kiko.

Nas colunas tocava música de vibes latinas, nada de Sakamoto, que a atmosfera quer-se festiva.

Sentei-me ao balcão. Do que consegui ver, estavam dois cozinheiros para os cerca de 40 lugares da sala. Nada de grave: os 40 lugares estiveram quase sempre vazios e os dois cozinheiros estiveram quase sempre só para mim. 

Estudei a carta com calma. A comunicação vende o restaurante como sendo uma fusão mexicana-japonesa. Não vi isso: há bem mais México do que Japão. Tacos, aguachiles, tostadas, quesadillas. Sobra uma secção de carne, esta, sim, de tendência nipónica. 

Optei pelo menu de degustação (72,40€), a dar direito a cinco pratos e uma sobremesa. 

Notas do que se provou.

Abriu-se com uma tostada de tártaro de barriga de atum em molho kizami wasabi, um amuse-bouche fora da contabilidade.

O kizami wasabi, explicou o chef que estava a servir, é um preparado da raiz de wasabi com molho de soja. Na boca, todavia, ficou sobretudo sal, nada da picância maravilhosa da raiz fresca de wasabi – como se sabe, caríssima e pouco acessível. E também ficou gordura a mais: da barriga de atum e da maionese. 

Sal e gordura seriam, aliás, tónicas do almoço. 

Seguiram-se dois aguachiles, primos do ceviche, aqui menos picantes do que no país deles. O primeiro era de lírio e gamba do Algarve. O prato apareceu em segundos, quase composto, como se tivesse sido tirado do frigorífico para o balcão. Estava gelado, sobretudo o aguachile, e talvez por isso se tenham perdido as nuances do que lá vinha dentro – e era muita coisa: para além do peixe e da gamba, puré de batata doce (bom, clássico de Kiko), salicórnia, wakame e milho cancha. 

Tal como no amuse-bouche, o prato tinha um problema de sal em demasia, agora nos pickles de pepino e no aguachile. 

A falha repetiu-se no aguachile seguinte, este de carabineiro sobre puré de aipo e avelã. Carabineiro cozinhado no ponto, puré impecável, avelãs a dar complexidade, mas o prato a sofrer outra vez com o cloreto de sódio e com a temperatura glacial do molho de limão e malagueta. 

Antes da passagem para os pratos de carne, tempo ainda para outra tostada de barriga de atum (!), maior mas com o mesmo problema do amuse-bouche: sal, muito sal. Sofri para chegar ao fim.

Passámos então para os quentes, com um prato bem bom. O taco al pastor, clássico da cozinha mexicana, veio com ananás caramelizado, porco preto e torresmos, envolvidos em tortilha assada na hora, o melhor do almoço.

Descida de nível outra vez com o tonkatsu de barriga de leitão: o suíno a saber a porcum, enjoativo; gordura na entremeada, gordura na camada de panko frita, gordura na bolinha de maionese (sempre a bolinha de maionese). 

Concluiu-se com churros de creme de leite, goma gelada de milho (interessante) e granizado de tequila e lima. Ok, sem deslumbrar. 

O serviço esteve sempre atento, rápido e simpático, sem ser submetido a teste pesado.

Carta de vinhos sintética, dominada por grandes produtores, com algumas garrafas francesas e uma secção de champanhe, com um ou outro tesourinho pelo meio, como o tinto duriense Mafarrico. Preços a multiplicar por três e quatro sobre o preço de custo, ou seja, para americano comprar. 

Em síntese. Temos mais um restaurante bonito do chef Kiko. Como noutros projectos seus, senti falta de convicção e maturidade do conceito. De resto, vi truques para encher a boca e enfeitar o Instagram, mas pouca consistência. 

Nesta refeição em particular, falharam pormenores capazes de dar cabo da experiência, como o excesso de sal ou as temperaturas. Pormenores que se tornam ainda mais graves quando se pagam entre 50 a 100 euros por pessoa. 

Por fim, salientar o seguinte. Ao contrário do que aconteceu com os meus amigos bloggers, não contei com o chef Kiko na cozinha. E também não fui a convite, durante a apresentação à imprensa. Duas coisas que podem fazer a diferença. Muita.

Detalhes

Endereço
Rua de São Pedro de Alcântara, 59
Lisboa
1200-459
Preço
45€-60€ (menu de degustação: 72,40€)
Horário
Seg-Dom 12.00-23.00
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