Crítica

Leopold (FECHADO)

3/5 estrelas
  • Restaurantes
  • preço 4 de 4
  • Castelo de São Jorge
  • Recomendado
Alfredo Lacerda
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A Time Out diz

Ao início, a gerência decidiu não comunicar a abertura do restaurante. Pode 
ter sido só para tirar pressão, mas a verdade é que passaram-se meses e o bloqueio à imprensa continuou. Ligava-se para lá e ouvia-se invariavelmente: “ainda não é a hora de falarmos” –, sendo certo que, no estrangeiro, iam-se repetindo elogios ao restaurante, “exemplo maior do fine dining desta cidade” (Bloomberg). A gestão de timings só fez aumentar a expectativa.

Dito isto, não estamos a falar de algo criado do zero. O Leopold do Palácio de Belmonte é uma evolução a partir do primeiro Leopold, na Mouraria, onde o chef e a responsável pela sala, Ana Cachaço, se iniciaram nas lides.
 A seu tempo me pronunciei sobre ele, sem grande entusiasmo,
 mas a expectativa tinha subido 
– muito por causa do suspense 
da inauguração e dos relatos que entretanto me chegavam, desde o início do ano: no novo restaurante os equipamentos eram outros, a equipa tinha crescido, o espaço também (de 10 para 22 lugares), Tiago Feio afirmava-se como uma estrela em ascensão.

Até onde subiria? É o que veremos.

Num jantar recente, nem tudo começou bem. A degustação (45€, seis pratos) era a única opção e eu gosto disso, mas o primeiro prato só chegou à mesa meia hora depois de estarmos sentados. Antes, só água e vinho e muito tempo livre para apreciar a decoração nórdica-minimalista-cool: paredes brancas e despidas, gira-discos a tocar a um canto, a zona de empratamento mesmo em cima da mesa comunitária do chef, local onde se sentaram comensais da Oceania, Escandinávia, Europa do Sul e Sudeste Asiático.

A disposição revelou-se muito feliz. Às tantas estávamos todos a falar com todos e tinha ali uma demonstração evidente, ao vivo e colorida, da subjectividade da crítica. De cada vez que um novo prato aterrava na mesa cada um dava o seu bitaite, cada qual o seu gosto.

Eu, por exemplo, gostei da veja dos Açores, o peixe marinado em saké e espicaçado por salicórnia, alga wakame e sea fingers, logo a abrir. Mas o outro português da mesa, treinador de rugby, achou-a insípida. Eu gostei mais ou menos da carne dos Açores, com alga kombu e ice plant. Mas o carpinteiro neozelandês de mobiliário de autor pô-la nos píncaros. Eu gostei muito do creme de túbaras e avelãs, papa suavíssima, untuosa 
e adocicada, só um ligeiro amargo, onde flutuavam “cacos” (a palavra é do chef ) de especiarias. Mas
 a cozinheira dinamarquesa a
 viver em Telavive e o seu irmão macambúzio fizeram um esgar doloroso à primeira colherada. Eu achei a cura da gema de ovo com trigo sarraceno, caldo de cebola e beldroegas, uma coisa já vista, sem graça e despropositada. Mas o casal tailandês a comemorar três anos de noivado, rapinado no elétrico 28 nessa tarde, animou-se com o prato.

Algumas coisas, contudo, foram consensuais. A sobremesa, com base de geleia de cereja, muito doce, não esteve à altura. Outra tontice: tártaro de algas portuguesas para barrar sobre manteiga de ovelha e pão de Mafra (já seco). Houve quem nem tocasse no tártaro e fizesse grandes sandes com a manteiga.

O serviço também fraco, em solavancos arrítmicos, triste e envergonhado. No mesmo sentido, trágica a opção de pôr o chef a vir explicar cada prato à mesa, repetindo quatro vezes (uma por cada par) a mesma lengalenga, enfadado, como um cantautor indie obrigado a cantar a cautela.

Em síntese, agora a solo. Este novo Leopold segue a mesma linha do anterior mas é mais animado, sobretudo por causa da mesa comunitária. Há a mesma depuração de sabores e economia nas doses que se praticava na casa anterior, outra vez reminiscências da nova cozinha nórdica, nem sempre com combinações felizes, e há mais atenção aos vinhos. Ou seja, Tiago Feio subiu ao Castelo, agora falta conquistar a torre de menagem.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Detalhes

Endereço
Palácio Belmonte
Pátio de Dom Fradique, 12
Lisboa
1100-261
Preço
Mais de 50€
Horário
Qua-Dom 19.30-23.00
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