A ideia de uma marisqueira moderna é uma boa ideia. Outra boa ideia é a de uma marisqueira moderna não tão moderna que prescinda de um aquário com crustáceos a copular e de um mostruário de peixe fresco sobre gelo, ambos aqui presentes e em bonito.
A primeira coisa que vemos mal entramos é, precisamente, o mostruário de peixes. Na primeira visita, umas lulas de meio metro dos Açores, com a pele intacta (sinal de pouco gelo) e aspecto vivo, contrastavam com uns salmonetes e outros peixes de mar já de olhos cavados; ao lado, marisco, pouco. “Já não temos nem amêijoas, nem lingueirão”, haveria de informar o empregado, indiferente à ideia de uma marisqueira sem amêijoas ser como um McDonald’s sem hambúrgueres.
Do que havia. Boas azeitonas britadas, ao lado chegou logo uma torrada em pão “rústico” e amanteigado. Seguiram-se uns camarões de Espinho, que substituíram sem brilho as gambas da costa (houve meia-dúzia de faltas na carta). Óptimo o berbigão, carnudo, com molho cítrico de açafrão. Nos principais, um bacalhau grelhado de fraca cura e tamanho pequeno, mal assado, acompanhado de xerém de amêijoas sem amêijoas, com um Bulhão Pato mortiço, e farinha de trigo em vez de milho. A segunda visita elevou a fasquia: belos carapaus grelhados, arroz de marisco (saboroso, sem peixes brancos mas com búzios) e a terminar um bitoque guloso de vazia maturada.
Nas sobremesas, destaque para o pudim de ovos e para o leite creme. Garrafeira com escolha seleccionada. Este MAR falha por vezes na execução e na consistência do produto mas tem boas ideias e alguns pratos que, por si, merecem a visita.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.