É justificado o bruaá em torno do Mezze, o restaurante onde quem recebe e cozinha são refugiados do Médio Oriente. O projecto, muitíssimo falado na imprensa quando abriu, em Setembro do ano passado, tem a mão da Pão a Pão – Associação para a Integração de Refugiados do Médio Oriente, responsável por uma série de eventos e workshops, não apenas ligados à gastronomia. Tem também, lê-se no final da ementa, o contributo de uma série de nomes, mais ou menos conhecidos, da cozinha ao design, da música à televisão.
Tanta atenção mediática (merecida, sublinhe-se) tornou o Mezze num daqueles restaurantes cujos primeiros passos foram acompanhados por enchentes de pessoas, com textos e fotografias partilhados e repartilhados nas redes sociais – acresce também o factor popularidade da cozinha do Médio Oriente no país. Tentei lá ir nas primeiras semanas, mas não consegui lugar e esperei então uns meses para o conhecer.
Dia de semana, hora do almoço, Lisboa cheia de sol e o Mezze com a sala bem composta. Mesa para duas pessoas junto à vidraça encostada ao Mercado da Arroios e explicação do menu por uma simpática rapariga palestiniana. A carta é longa, dividida em seis menus, três deles vegetarianos, três para carnívoros. Há pratos que se repetem e muitos podem ser pedidos à la carte. Mas graças a uma boa recomendação, partimos para dois menus (14€ e 15€), cada um deles composto por pequenos pratos, com a dose certa para uma pessoa e também uma boa ideia para partilhar – afinal é isso que significa “mezze”. Extra-menus vieram um óptimo sumo de tamarindo e uma limonada com hortelã bem equilibrada, sem açúcar, melhor que a maioria das limonadas aguadas que se encontram por aí.
A particularidade destes mezze é que tudo vem para a mesa quase ao mesmo tempo. Em cinco minutos está montado um festim de comida, alguma fria, alguma quente, alguma mais ácida, alguma mais adocicada. Mas no geral, um festim de boa comida.
Suave e aromatizada a sopa de lentilhas (shorbet adas); excelente o baba ganoush, o puré de beringela assada com tahini, xarope de romã, especiarias e nozes, com um leve sabor a fumado, ácido q.b., a casar na perfeição com o pão sírio (khubz). [O pão é uma das imagens da casa, assim como Yasser, o padeiro sírio, responsável pelas massas de outros pratos]. Muito bom o hummus, leve, bem temperado, também para mergulhar o pão sírio. Provou-se também uma óptima salada de tomate, pepino e hortelã, com pão árabe estaladiço (fatoush) e um falafel, os já conhecidos bolinhos fritos de grão com especiarias, aqui sem resquícios de óleo, cobertos de sementes de sésamo, para mergulhar num molho adocicado, o conjunto a funcionar bem. Belíssimo o arroz amarelo feito com gengibre ralado, pimentos, passas, curcuma, entre outras especiarias (kabseh), solto e cheio de sabor e aromas. De tudo, só não gostei das espetadas de borrego, com a carne algo nervosa – o molho de iogurte ajudou a marchar parte do prato. Finalizou-se com uma óptima baklava, o interior húmido, a massa exterior estaladiça, como se quer.
Experiência somada, foi um bom almoço de cozinha do Médio Oriente a puxar para o caseiro e simples, feita com produtos de qualidade, muitos aromas e um serviço simpático. Sai a 15-18€ à cabeça e isso, nos dias que correm, é dado.
A crítica de Marta Brown foi publicada a 24/01/2018
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