Miosótis Cafetaria
Fotografia: Manuel Manso

Crítica

Miosótis Cafetaria

4/5 estrelas
  • Restaurantes
  • preço 1 de 4
  • São Sebastião
  • Recomendado
Alfredo Lacerda
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A Time Out diz

Para além de ser o super mercado com melhor selecção de produtos biológicos da cidade, o Miosótis é também o sítio de Lisboa que mais se parece com a universidade de Verão do Bloco de Esquerda. Em frente ao mostrador de legumes, três sexagenários de rabo de cavalo, pinta de tântricos, hesitam entre dez variedades de couves; atrás, é um corrupio de sandálias Birkenstock, saquinhos de pano ao ombro e mulheres sem soutien cirandando da ilha das batatas para a ilha dos tomates.

Isto deve desde logo alegrar-nos, não apenas pelo divertido que é ver pessoas sem roupa interior a ensacar hortícolas, nem apenas por causa dos alimentos livres de pesticidas, mas porque à nossa volta há uma imensidão de frutas e legumes, de época e diferentes dos que se compram nas grandes lojas. Mas estamos aqui para falar da Cafetaria, que eu considero um restaurante. Ora, no restaurante, à distância de um corredor, o ambiente e a filosofia são os mesmos. Com uma diferença: o cliente, aqui, faz ainda melhor negócio.

De início, alguns cínicos suspeitaram de que iria ser apenas caixote do lixo para produtos semipodres ou com stock sobredimensionado vindos do supermercado. Nada disso. Está tudo impecável, é tudo feito à vista. Limpinho, limpinho.

A primeira prova disso são os sumos de frutas. Os sumos são frequentemente um expediente para lucrar com aquele morango amachucado, aquela banana passada, aquele kiwizinho farinhento – que depois nos deixam com a sensação de ter Pedrógão Grande no estômago. No Miosótis, cada sumo que bebi– e foram vários – parecia fruta acabada de colher do pomar.

Depois, o sítio não se
 limita a pôr na mesa o que
 se vende nas prateleiras. Há alguém ali que sabe cozinhar, e bem, e que faz mais do que saladinha cheia de palha. É certo que a alface está presente, demasiado até, sobretudo nos acompanhamentos, o que é aborrecido (mesmo quando
a alface é bio, polvilhada com sementes de sésamo e com uma vinagreta decente). Mas sobram vários atractivos.

Quais? Não sendo grande fã de quiches, gostei muito das que lá provei, fosse a de tomate e pimento, fosse – imagine-
se! – a de salsicha de seitan e tofu, fosse a de abóbora e couve de Bruxelas. Ainda melhor a lasanha de legumes, um bloco disforme mas ligado pelo queijo gratinado e pelo molho de tomate. Do outro balcão, por sua vez, veio uma quiche de peixe (a loja vende peixe de Sesimbra e dos Açores), improvavelmente boa e leve, e também uma polenta com molho de tomate e couve. Sopas todas cremosas, fantástica a de lentilhas, com uma ou outra erva a dar um toque de exotismo controlado.

Nas sobremesas, imagino que seja tudo livre de açúcar refinado, esse novo antrax. O que, ao contrário do que muitos pensam, só melhora a experiência. Não vejo que seja possível fazer uma tarte de morangos e tâmaras mais deliciosa do que a desta cantina. O mesmo do bolo de requeijão e coco, e do de noz, ambos húmidos e gulosos.

Quanto ao espaço, é aberto, servido por dois balcões, sala ampla ao meio, tudo em madeira, do soalho às mesas, em fundo
 uns janelões e uma esplanada sem vista e quente no Verão. Num dos balcões, só para almoços, encontram-se pratos do dia, sopas e acepipes ocasionais; no outro, a funcionar até às 20.00, o regime é de cafetaria, mas também se pode ter uma refeição completa por menos de 10 euros, com sopa, sumo natural e sobremesa incluídos.

Não tenho a certeza de que os alimentos biológicos façam as pessoas viverem mais vinte anos. O que eu sei é que a maior parte dos produtos biológicos ganham aos outros em duas coisas: são mais originais e têm mais sabor. Isso nota-se, não apenas quando os comemos antes de serem processados mas também quando são transformados por gente que sabe da poda. E os cozinheiros ou cozinheiras do Miosótis, com ou sem roupa interior, sabem.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Detalhes

Endereço
Rua Latino Coelho, 89
Lisboa
1050-034
Preço
10€
Horário
Seg-Sáb 09.00-21.00
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