Alguns gastrónomos diabolizam o sushi de fusão, não por faltarem razões para criticá-lo, mas por serem snobs preconceituosos. Em teoria, o risco do sushi de fusão é o mesmo do da cozinha moderna que eles veneram sem critério: na ânsia de se criar um prato exótico, muitas vezes inventa-se um disparate.
Dito isto, há exemplos de sucesso. Será o caso deste Nómada?
O espaço é pequeno, bonito, o papel de parede a dar-nos conforto. Na origem do restaurante estão ex-funcionários de um bastião do género, o Sushic de Almada, pelo que não é de estranhar que a linha da cozinha seja a mesma, com virtudes e defeitos semelhantes: peixe de qualidade (sem grandes extravagâncias), boa técnica, algumas combinações interessantes, maionese e outros molhos aos molhos, fritos abundantes, demasiadas coisas adocicadas. Veja-se a entrada Asiab Ebi para se perceber o que falha. O prato, lindíssimo – como são quase todos, aliás –, leva peças de arroz envolto em sésamo torrado, por cima tempura de camarão, maionese japonesa a colar os elementos. Na boca há mais tempura do que camarão, mais gordura do que sésamo, mais sweet chilly do que tudo.
Num jantar recente, a meio da semana, a seguir vieram os cones crocantes – “obrigatórios”, disse o empregado. Outra vez açúcar a mais. Massa brick, lá dentro o recheio de tataki de atum ofuscado por cebola confitada (açucarada) em vinho do Porto.
É todavia possível fugir a isto. A carta vai a todas. Dos tatakis aos ceviches, passando pelos gunkans, makis, niguiris, ceviches, carpaccios, tártaros – não há nada que não se faça, incluindo alguns pratos tradicionais japoneses. Diria até que o Nómada ganha pontos nas coisas mais clássicas.
O aji de carapau é bastante bom, cheio de texturas e elementos: ovas de salmão selvagem, rebentos de coentros, alga wakamami, ao lado montículos de puré de batata roxa – um conjunto excelente, fresquíssimo.
Outro sinal de que temos um sushiman competente na cozinha é o sashimi, verdadeiro fiel da balança de um restaurante de sushi. O prato de 21 peças vem com cascas de maracujá para roer, metades de laranjas bebés, edamame (feijão de soja) – tudo muito refrescante.
Quanto aos peixes, haverá em Lisboa poucos sortidos tão variados. Destaque para os que viajaram dos Açores – lírio, encharéu –, para a garoupa e para o chicharro cortados em dominós geometricamente iguais. Tivesse toro e não tivesse gelo (o peixe fica demasiado frio) e concorreria com os sushis da primeira divisão.
Nas sobremesas, muito bom o fofo de chá verde com gelado de melão e a delícia de mascarpone, com gelado de morango. Serviço conhecedor, simpático e profissional, carta de vinhos curta mas com escolhas originais e de bom gosto.
O custo por pessoa andará em média entre os 25 e os 30 euros, o que pode ser muito ou pode ser justo, dependendo das fusões que escolha.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.