Façamos uma abertura à José Quitério. O lugar fica perto da Avenida da Liberdade, mas num recanto bucólico como um pelourinho transmontano. Depois de uma escadaria, chega-se ao Largo do Fala Só, a caminho do miradouro de São Pedro de Alcântara. Eu que fui só, e particularmente introspectivo, pus-me a pensar quem seria o Fala Só. Seria um performer, seria um louco, seria apenas um solitário?
Não encontrei respostas na Internet, nem no interior do Nonna. A pequena loja, auto-intitulada “o primeiro fast pasta bar em Lisboa”, é um sítio mínimo, mas muito social.
A história repete-se. Estrangeiros a viver em Portugal, no caso quatro amigos italianos, magicam uma forma de por cá se sustentarem. Chega a pandemia e abrem um take away, suportado por redes sociais e talento para as massas e para o cool. O negócio corre melhor do que se esperava e, quando o bicho viral dá tréguas, investem o pouco que têm num espaço modesto, onde já se senta gente, mas ainda apostado no delivery: chegar, pegar e levar.
Eventualmente, a coisa corre melhor do que era esperado. Mesmo servindo a comida em boxes de cartão, há gente disposta a pré-pagar 13€ e comer rigatoni in loco, sentadas ao fresco ou mesmo num cantinho apertado lá dentro, inebriadas com Chianti a copo (sem referência da marca, 4,5€) e adoçadas, no final, a tiramisù (5,90€).
Neste dia, havia quatro massas à escolha, todas com o rigatoni feito com massa fresca na casa. Uma banhada a molho de tomate e creme de burrata, com pistáchio, bem boa. Outra com trufa fresca e parmesão. Outra uma carbonara com creme de abóbora, que da carbonara tem a panceta apenas. Outra com pesto de manjericão caseiro e amêndoas tostadas. Já houve outras criações ambiciosas, como a pasta com gamba vermelha, que gostaria de ter provado.
Notas de prova. A pasta tem a firmeza da sêmola dura, e no caso do meu prato, o Iconic Pomodoro, estava decadente e saborosa a molhanga: tomate a rodos, stracciatella da burrata, os pistáchios triturados por cima.
A focaccia, curta em azeite, é mais uma pizza e não acrescenta muito, para além de mais hidratos.
O tiramisù já conhecia, porque é o fornecido pela Tiramisusi, a pequena empresa familiar italiana que se estabeleceu por cá. É leve e equilibrado, como sabemos, e custa dinheiro (5,90€), como também sabemos, mas a refeição sem ele fica coxa.
Em síntese. Se quisermos tudo a que temos direito, podemos sair deste Nonna felizes, mas com menos 25€ no bolso — o que é excessivo para um fast food.
A minha sugestão é, por isso, a seguinte. Vão num dia de sol, um grupo de três, no mínimo, e sentem-se cá fora, junto à escadaria. Peçam duas massas para dividir, uma focaccia (6€, boas, não sendo tecnicamente focaccias), troquem o vinho pela cerveja italiana Peroni (3€) ou pela Super Bock (1,5€), e peçam dois tiramisùs, também para dividir. Deverão pagar entre 16€ e 19€, conforme os cafés e as massas, mas sairão felizes e completos.
PS: Uma das coisas em que matutei foi no que diria José Quitério, meu ex-colega do Expresso, sobre este Nonna, para além da toponímia. Quitério podia ser cáustico com modernices, e certamente desdenharia as cadeiras de ferro gastas e ter de comer sobre azulejos. Mas saberia apreciar a massa fresca e o respeito pelo produto. E, saberia, certamente, arrancar melhor este texto. Digo eu. A sós.