É o chinês mais português da cidade. A dona, filha do fundador, Dihuan Lin, fez cá a escola e responde sem sotaque às questões mais técnicas. Acresce que, em vez do mobiliário de plástico, há madeiras escuras, prateleiras com boas garrafas de vinho e atoalhados de pano – um ambiente confortável e sofisticado mais próximo do bistrô do que da sala-fonte-luminosa-brilhante-fluorescente.
De notar, contudo, que a mesa grande redonda, com placa giratória ao centro – uma das grandes invenções gastronómicas que os chineses nos deram – não foi descartada e proporciona bons momentos a famílias alargadas.
A fama do restaurante, no entanto, vem do pato – e com inteira justiça. Tem as versões lacado à Pequim (médio 18€), assado à Pequim (pequeno 9€) e o especial à Pequim (para três ou quatro pessoas, 45€). A maior parte das vezes que lá comi, o pato assado vinha suculento por dentro e crocante por fora, com os acompanhamentos do costume: panquecas, alho francês em fiapos e molho Hoisin (feito de pasta de feijão, vinagre e cinco especiarias, mistura anisada que os iniciados acham de sabor farmacêutico mas que se torna num exotismo essencial). O especial à Pequim inclui um caldo excelente com óleo de sésamo e bróculos, febras, a pele (maravilhosa, a lembrar leitão) – tudo de pato, claro – e legumes.
Embora não seja uma casa conhecida pelos dim sum, outro prato interessante são os raviolis de porco preto, um aportuguesamento dos guo tai chineses, com recheio de carne moída, alho e cebolo (5€), e outros de puré de favas e trufa branca, uma combinação amarga mas excelente. De resto, usam-se aqui e noutros pratos produtos de qualidade superior à média, como é caso da carne de porco Ti António.
Passe à frente os ocidentais chop sueys e detenha-se na galinha con pao (que aparece noutros restaurantes com a grafia “kong pao”, 8€), prato típico da região de Sichuan, aqui com caju em vez dos tradicionais amendoins, e pouca malagueta; ou nas gambas salteadas com espargos verdes (9,5€), os legumes só ligeiramente cozinhados, rijos, como deve ser.
Nas sobremesas há os clássicos ocidentais, excelentes a banana e o ananás (natural) pá si, com gelado Häagen Dazs (que tem carta à parte).
Este Nova Ásia, mesmo em frente ao Centro Comercial Alvalade, onde está desde 1990, é um chinês para iniciados ou, se quisermos, para meninos (a Av. de Roma está a menos de 100 metros). Mas às vezes é disso que precisamos: de um sítio para levar aquela pessoa relutante a chinesices; ou a outra que até gosta de cozinha étnica mas não come com pauzinhos (a mesa é posta com talheres); ou da que não dispensa um espaço com pinta, mesmo se o jantar for arroz chao chao, banana pá si ou pato. Sobretudo pato.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.