1. Nunes Real Marisqueira
    Mariana Valle LimaLavagante à basca
  2. Nunes Real Marisqueira
    Mariana Valle Lima
  3. Nunes Real Marisqueira
    Mariana Valle Lima
  4. Nunes Real Marisqueira
    Mariana Valle Lima
  5. Nunes Real Marisqueira
    Mariana Valle Lima
  6. Nunes Real Marisqueira
    Mariana Valle Lima
  7. Nunes Real Marisqueira
    Mariana Valle LimaBikini com salmão e caviar
  8. Nunes Real Marisqueira
    Mariana Valle LimaSantola e salmorejo

Crítica

Nunes Real Marisqueira

4/5 estrelas
Na renovada marisqueira de Belém, Luís Monteiro foi lembrado da importância de se dar segundas oportunidades.
  • Restaurantes | Frutos do mar
  • Belém
  • Recomendado
Publicidade

A Time Out diz

A Nunes Real Marisqueira assumiu a sua realeza. Alguns dirão até que talvez lhe tenha subido um pouco à cabeça... Uma coisa é certa, o novo espaço não deixará ninguém indiferente: imponente para uns, ostensivo para outros; luxuoso para os primeiros, excessivo para os segundos. Difícil de identificar um estilo, para além da inspiração náutica em inúmeros detalhes (incluindo duas enormes estátuas de Neptuno e uma sereia) e na predominante cor azul, reforçada pelos dourados que apelam ao luxo que se sente (e paga) na conta final.

Confesso que a minha primeira experiência no novo Nunes não foi feliz. Fiz parte de um grupo que incluía alguns estrangeiros em que quem pagou a conta, perdoem-me a metáfora, sentiu os seus convidados levados pelo canto de uma sereia e ele deixado à mercê da tempestade da conta trazida por Neptuno... Umas lagostas gigantes foram, muito pouco discretamente, “sugeridas” aos convidados, repercutindo-se num custo, igualmente, gigante de mais de 200 euros por pessoa (sem se ter pedido praticamente mais nada). Valiam o preço? Deram uma sopa e um arroz clássicos, mas de bom nível. Para quem se limitou a comer, de certeza que valiam o preço. Para quem pagou, talvez não... Nas redes sociais encontram-se queixas semelhantes. Conto este episódio porque a honestidade da crítica o impõe: mas custa porque nunca tinha sido o meu caso até então.

O Nunes nunca foi um restaurante barato porque o produto que serve não é barato. Mas nunca tinha visto esta prática, infelizmente algo comum, de “empurrar” os clientes para produtos e pratos mais caros. Acresce que alguns preços subiram muito no novo espaço. Compreende-se a pressão para amortizar o enorme investimento que deve ter sido feito, mas nada garante mais isso do que preservar a confiança que foi conquistada ao longo de tantos anos. É manter a qualidade de produto e do serviço que sempre tiveram. Ser transparentes e equilibrados nos preços. Haverá dias em que os clientes pedem pratos mais baratos e outros dias em que comem coisas mais caras. Cobrar caro o barato ou achar que os clientes só devem vir para comer o caro é que não.

Uma segunda visita restabeleceu, no entanto, a minha confiança no Nunes. Propositadamente, não pedi nenhum dos pratos ou marisco mais caro. Ninguém me procurou dissuadir ou impingir algo mais caro e não me senti um cliente de segunda. Pelo contrário, o serviço foi absolutamente fantástico (apesar de ser uma refeição “low cost” para os standards do Nunes). Ao contrário do que se diz, afinal há uma segunda oportunidade para criar uma boa impressão.

Quero acreditar que, passados alguns excessos talvez decorrentes da pressão de reabrir num novo espaço, o Nunes acertou o passo com o seu passado, mas também virado para o futuro. Nas minhas visitas provei dois dos novos pratos: o camarão alistado com caviar (bom, mas recordando que duas coisas boas nem sempre fazem uma melhor, podem apenas continuar a ser duas coisas boas juntas); e um maravilhoso “prego” de lavagante à basca (com ovo estrelado) num bolo de caco. Um prato que tinha tanto de improvável como teve de enorme sabor na boca. E um prato que prova que um consumidor pode ser seduzido por algo mais acessível para arriscar, depois, o mais caro: na próxima ida dificilmente resistirei a pedir o lavagante inteiro à basca, mesmo que isso me faça arriscar a falência. De entre os mais clássicos, as amêijoas à Bulhão Pato (com o molho sedoso e a acidez equilibrada) e o casco de santola estavam ao nível óptimo a que o Nunes nos habituou. Ainda melhores do que me lembrava no espaço anterior, as puntillitas fritas, de fritura irrepreensível e um polme leve a respeitar o sabor das mesmas. Podia ter passado o dia a comer apenas isso. Os fritos são, aliás, um dos aspectos em que a cozinha parece beneficiar do novo espaço. São as melhores frituras de peixe que comi recentemente em Lisboa. Foi assim também com os filetes de peixe-galo acompanhados por uma bela açorda de ovas. Nos doces provaram-se os de ovos: cumpriram. Boa carta de vinhos, a um preço bastante razoável (em que os melhores vinhos não têm margens excessivas), e com um serviço de igual bom nível.

No final de tudo, lembrei-me da frase de Oscar Wilde: uma boa refeição faz com que perdoemos tudo. Por mim, o Nunes está perdoado pela infelicidade de uma visita e vai galardoado com as quatro estrelas que a sua história merece. Que permaneçam fiéis a essa e não se deixem conduzir por outros cantos de sereia... Os clientes são Neptunos que podem afundar navios se se sentem enganados. É assim nos mitos.

Detalhes

Endereço
Rua Bartolomeu Dias, 172
Lisboa
1400-031
Horário
Ter-Dom 12.30-00.00
Publicidade
Também poderá gostar
Também poderá gostar