O Bitoque - Bitoque
Fotografia: Arlindo Camacho

Crítica

O Bitoque

3/5 estrelas
Em Campo de Ourique, as casas vendem-se a 6500€/m2. Mas José Margarido achou um bom negócio em plena Ferreira Borges.
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José Margarido
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A Time Out diz

Passa da uma, comenta-se ao balcão.

– Isto hoje está sossegado. Já é a crise?

A casa parece composta, mas a regra é lotação esgotada. Entro na conversa. 

– Vem mesmo aí uma crise? 

– Não vem sempre?

Rio que sim, talvez, não sei dizer. Lembro que em Campo de Ourique não se acha uma casa por menos de meio milhão e, no entanto, eis-nos aqui, em plena Ferreira Borges, a fazer uma refeição completa por 12€. Talvez um dia as casas baixem, talvez o bitoque dispare, talvez isto rebente tudo. Sei dizer que as batatas fritas estão do caraças.

Ocupo um dos 10 lugares de balcão – há mais quatro mesas de dois no corredor que o acompanha, e uma salinha lá adiante, 9 m² atravancados por um pilarete, onde se sentam 15 comensais à cotovelada. Sobra meia dúzia de lugares na esplanada, mas Janeiro não esteve para isso. 

O bitoque é o melhor negócio n’O Bitoque, sobretudo ao balcão. Por 9,5€ temos uma simpática peça do redondo, baixinha mas macia, sabor de alho e louro, molhanga com toque de branco, uns verdes a desculpar (hoje calha couve cozida, já apanhei esparregado do bom), conversa com estranhos, acesso a sabedoria popular, e umas óptimas batatas fritas às rodelas. No resto da carta arrisca-se mais.

O bitoque chega a correr e a cavalo vem um ovo acabadinho de fritar. Tudo parece feito a mata-cavalo, mas com grande eficiência. A máquina está afinada para almoços e em três investidas nada demorou mais que cinco minutos. 

Outro dia, cinco para a uma, casa cheia.

– O cachucho?! Então, é assim como a dourada, mas não tem nada a ver.

A descrição foi vozeada para um cliente ao meu lado. E faz sentido. O cachucho é assim como a dourada, no sentido em que ambos têm aproximadamente a forma oval que uma criança dá a um peixe. Depois não tem nada a ver, no sentido em que é uma coisa inteiramente diferente. Acresce que é uma palavra maravilhosamente portuguesa, que vem do tempo da Maria, e tanto nomeia um anel rico como um peixe pobre.

Esclarecido, o cliente pede um cachucho frito. Eu também, ganhámos ambos. O peixe chega grande e tão gordo quanto um cachucho pode ser, pele estaladiça, fritura limpíssima e enxuta, acompanhado de umas boas migas, perfumadas de coentro, que apenas pediam melhor azeite no refogado.    

N’O Bitoque, os pratos do dia rodam todos os dias, à razão de umas seis entradas diferentes. O peixe frito foi um dos melhores acontecimentos num catálogo desigual de experiências. Também lá apanhei um óptimo arroz de polvo, o bicho bem cozido, o carolino no ponto; e um arroz de pato razoável, tostadinho, três rodelas de chouriço, outra de entremeada, quá quá qb. 

Mas também já me arrependi de uma carne de porco à alentejana. Não tanto pelas amêijoas vietnamitas, falecidas e desemparelhadas das cascas – não espero bivalves de luxo a 9€. Foi mais por acabar a comer uns rojões com molho de bitoque a saber a cominhos. Não estava mau, só que, lá está: era assim como a carne de porco à alentejana, mas não tinha nada a ver.

Detalhes

Endereço
Rua Ferreira Borges, 61
Lisboa
1350-127
Transporte
BUS 709, 774. Eléctrico 28.
Preço
10€-15€
Horário
Dom-Sex, 08.30-21.30
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