1. O Poleiro
    Rita Chantre
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Crítica

O Poleiro

4/5 estrelas
Em Entrecampos, José Margarido colmatou uma falha no seu currículo lisboeta. E ficou a pensar no que é isso de um restaurante clássico.
  • Restaurantes | Português
  • Recomendado
José Margarido
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A Time Out diz

Quando anunciei que ia ao Poleiro pela primeira vez, um amigo tasqueiro reagiu como se lhe dissesse que nunca tinha lido Os Maias. Porque o Poleiro é um clássico e os clássicos são obrigatórios. A modos que parece mal a gente dizer que só conhece de ouvir falar e admitir que nunca provou as iscas nem fazia ideia de que o Carlos da Maia andava a dormir com a própria irmã. 

Estreio-me num almoço e entretenho-me a debater à mesa o que vem a ser isso de um clássico. Listamos características. Um menu de cozinha tradicional, nunca menos de vinte pratos, coisas de tacho, forno, grelha e frigideira; uma lista generosa de entradas, com quentes e frios; um serviço atento, uma reminiscência de escola francesa, alguns salamaleques; o mesmo branco engomado nas toalhas de mesa, nos guardanapos de pano e nas camisas do pessoal; uma clientela fiel que trata o empregado pelo nome e que é tratada por xôtor. Tudo isso o Poleiro tem.  

E tem as tais iscas. Óptimas. Corte médio, tempero paciente de vinha d’alho, estufadas em frigideira, chegam com umas batatas de rodela bem alta, fritura leve depois da cozedura, que me resolvem a eterna indecisão de acompanhar os fígados com batata cozida (como é suposto) ou frita (como apetece). É outro traço clássico, a guarnição convocada à medida – batatas em palito e esparregado com os lagartos, batata a murro com o peixe grelhado, arroz de grelos com as pataniscas de bacalhau e de lingueirão com as de camarão, arroz de favinhas com o entrecosto frito. Tudo isso o Poleiro também tem. 

Da estreia consta também uma açorda de gambas, clássico entre clássicos que não desaponta. O conjunto fofo mas irregular, ligeiros grumos, nada de Cerelac, tempero vivo de coentros e uma catrefada de gambas que me leva a pesquisar qual o nome colectivo do bicho – espicha, chamam no Brasil.

O serviço de vinhos é cuidado (copos, temperatura), a carta é extensa, sem arriscar para lá dos clássicos, em regra multiplica o pvp por 2,5 – o que também é um clássico – e inclui meia dúzia de extravagâncias para quando o xôtor decide que um dia não são dias e quer fazer figura com um champanhe de 900 paus (Cristal Roederer, 2006). 

Junte-se uma lista de sobremesas de produção caseira (bom leite-creme, queimado a ferros na hora) e temos a definição aproximada de um clássico (a melhor continua a ser creditada a Mário Jardel: um clássico é um clássico e vice-versa).

Não é a última vez que cá venho nem desisti de ainda ler Os Maias

Crítica publicada inicialmente na edição de Inverno da Time Out Lisboa

Detalhes

Endereço
Rua de Entrecampos, 30A
Lisboa
1700-162
Preço
30€
Horário
Seg-Sex 12.15-15.00/ 19.15-22.00, Sáb 12.15-15.00
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