Andamos a comer demasiadas burratas, demasiado más. É preciso critério. E o critério pode ser este: sempre que virem as palavras “burrata” e “Apúlia” (Puglia, em italiano) é para mandar vir.
A burrata é um queijo rebuscado, no sentido em que obedece a uma engenharia complexa. No fundo, é uma espécie de ravióli de mozarela, com recheio de natas e pedaços.
Diz a história que nasceu perto do Castel del Monte, nos arredores da cidade de Andria, região da Apúlia. O inventor terá sido o queijeiro Lorenzo Bianchino Chieppa, algures nos anos 1920, e a obra surgiu do aproveitamento da camada natosa que se formava no topo do leite da manhã.
A isto, Lorenzo juntou sobras de tiras de mozarela, esfareladas com os dedos, encapsulando tudo numa camada dura, com uns 5 milímetros de grossura.
O resultado é uma cena de soft porn, como sabe quem já agarrou numa burrata com as mãos e deu cabo dela à dentada, semi-cerrando os olhos, eventualmente deixando escorrer um fiozinho do leite grosso, doce e ácido – fresco, vibrante! –, pelos cantos da boca.
Ora, no Obicà convém uma certa compostura, mas ainda assim tudo o resto se consegue. O restaurante pertence a uma cadeia – com restaurantes dos EUA ao Japão –, o que não invalida que tenha burratas e mozarelas das melhores da cidade, servidas como deve ser, sem tomatinhos insípidos a acompanhar ou outro acessório que justifique somar mais 5 euros ao preço.
Pode comer-se só assim ou com um bom azeite cru por cima – azeites suaves, como os de azeitona galega – e uma fatia de pão a acompanhar, ou, melhor ainda, com focaccia, que no Obicà é bem boa, o azeite ligeiramente frito por fora e o interior untuoso.
A minha sugestão é que vá com amigos e se dedique à “Gran Degustazione di Mozzarelle” (38€), que dá direito a provar um bocadinho de muita coisa, incluindo ricota de leite de búfala. O ideal é entremear com outros pequenos pratos, como hummus e charcutaria de Parma D.O.P, e não se aventurar noutras italianices.
Ao almoço, há um bom negócio. Por 18€, tem o menu executivo, com direito a couvert, entrada (ou sobremesa), prato e café. Nas pastas, provaram-se uns gnocchi e um spaghettoni, ambos bem, sem encantarem.
Há muitas outras opções, incluindo pizzas, e pratos de substância, como rib eye (o coração do costeletão, sem osso) alcachofras ou robalo com porcini. Mas tenho assente que a essência da casa são as mozarelas e seus derivados, não se afirmasse o Obicà como “o primeiro mozzarella bar do mundo” (em Portugal, terá sido o Puro 4050, no Porto, também bem bom).
Em síntese. Numa cidade onde as burratas se tornaram nas novas trouxas de alheira, é difícil encontrar das boas. Neste Obicà, elas existem e a um preço decente e isso é uma dádiva que devemos agradecer e comer.