Crítica
A ideia de que Lisboa está cheia de óptimos restaurantes de comida tradicional é uma treta. Há alguns bons, muitos razoáveis, mas sítios de excelência nem tanto. É preciso pensar sempre muito para nos lembrarmos de um e o mais certo é acabarmos a largar mais de 40€ no sítio novo-rico do costume, com fotos de clientes notáveis nas paredes.
Este Orelhas, um clássico com décadas, embora alojado num dormitório de classe média em Queijas, continua a ser um bastião de comezaina tuga de qualidade e é mais sóbrio e mais barato (come- se por 20€) do que a concorrência. Fora os cortinados duvidosos e a garrafeira exibicionista (Barca Velha e Vale Meão em destaque), o que domina a sala é a cozinha aberta, com uma vitrine de carnes e bom peixe de mar para assar, e atrás dela o sr. Travassos e a sua toque blanche na cabeça.
Mal nos sentamos, na mesa caem logo uns pastéis de bacalhau, quentinhos, e uma excelente farinheira frita. Depois, entra em cena o filho do sr. Travassos e perdemos o controlo da refeição. A carta pode nunca chegar à mesa e o cliente pode não saber o que lhe vai calhar. Este voluntarismo, entremeado por piadas de algibeira, nem sempre corre bem. Numa das visitas, foi anunciado um “petisco imperdível” que era, afinal, umas gambas ao alhinho insossas e carotas.
Felizmente há mais e melhor. Exemplos: rabo de boi assado, bochechas de porco, língua de vaca estufada com puré, a cabidela de galinha (obrigatória) e, no seu tempo, o arroz de lebre. Nas sobremesas, recomenda-se tudo: arroz doce, farófias, uma excelente mousse ou barriga de freira. Sobre o nome do restaurante? Está à vista.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.