Não me considero uma expert em carbonaras, mas, numa escala de 0 a 5, em que 0 é “nunca provei”, 1 é “comi uma vez uma instantânea”, 2 é “não gosto muito porque deixei de comer carne há três anos”, 3 é “como às vezes, mas não sou fanático”, 4 é “sempre que vou a um restaurante italiano como carbonara” e 5 é “como em média uma vez por semana”, sou um 4, um claríssimo 4. E, como tal, já provei muitas carbonaras nesta cidade. E se há bons anos era complicado encontrar um exemplar de jeito, que não levasse natas ou outras adaptações portuguesas, hoje, com a nova vaga de italianos é facílimo fazer uma lista das melhores carbonaras de Lisboa.
Isto vem a propósito de ter ido ao Otto e ter pedido, obviamente, uma carbonara. Primeiro contacto: tento enrolar a massa no garfo (e nisto até sou boa), mas consigo apenas apanhar um nico de bacon e dois pedaços de spaghetti do tamanho do meu indicador. Pasta partida em vez de fios inteiros nunca tinha visto um italiano fazer. Segunda investida: afundo o garfo na montanha de massa, desta vez obtenho melhores resultados, mas apercebo-me que lhe falta aquela cremosidade boa da receita italiana, dada pelos ovos, pelo queijo e até pela água da cozedura da massa. Terceira e seguintes garfadas: apanho pedaços de alho grandes de mais, folhas de salsa e lembro-me que na ementa está escrito La Carbonara dell’Otto. Ora a carbonara do Otto não é boa. É seca, tem muito alho, pouco ovo e gordura desnecessária.
E quem é o Otto? É um restaurante italiano que abriu no Verão, no 8 Building, é a tradução literal de oito e é um sítio cuja ementa está dividida em famílias de oito pratos. O espaço é bonito, a decoração usa e abusa das madeiras (em bom), joga com loiças coloridas em tons pastel e tem um forno de lenha onde rodam pizzas.
Pizzas. Outro campeonato onde, graças à evolução da gastronomia em Lisboa, também já é difícil entrar e permanecer na Primeira Liga. Das oito Pizze Classiche, pediu-se uma Pugliese, com mozzarella, molho de tomate, presunto, ricotta, ovo e parmesão. Massa fina mas sem ser crocante, pouco estaladiça nas bordas, algo pesada; presunto de pacote – uma pena, porque há pernas de presunto penduradas em cima da área de trabalho dos pizzaiolos e há pizzas anunciadas na ementa com presunto de Parma –, excesso de queijo parmesão sem grande sabor e cura. Resumindo, uma pizza banal.
Antes de tudo veio a burrata (vai uma aposta que é um bestseller?), numa salada de tomates cereja, agrião e cebola roxa bem avinagrada. Ao queijo em si faltava sabor, intensidade e cremosidade. E antes ainda uma focaccia caseira, feita no forno de lenha, mas mal cozida, algo compacta.
E por falar em compacto, o salame de chocolate, que é uma das oito sobremesas, também não me convenceu. Uma massa de chocolate amargo e em vez de bolacha, pedaços de bolo. Nunca tinha visto tal coisa (e espero não voltar a ver).
Pela italianice à moda do Otto, com uma docíssima sangria branca, paguei 60€ (duas pessoas), um preço até ajustado à realidade lisboeta. Mas aqui o problema está longe de ser o preço ou até mesmo o serviço lento. O problema é que o Otto é só mais um restaurante italiano banal, com laivos de cozinha industrial e matéria-prima sem a qualidade necessária para esta cozinha. E outras.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.