Crítica

Papa Migas (FECHADO)

3/5 estrelas
  • Restaurantes | Português
  • preço 3 de 4
  • Bairro Alto
  • Recomendado
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A Time Out diz

Passei a infância numa casa da qual saí quando tinha sete anos. E, desde então, nunca voltei a lá entrar. Mas sempre que passo na rua fico com uma curiosidade tremenda para
 ver como é que quem lá vive a ocupou, a decoração escolhida e, claro, as verdadeiras dimensões de cada divisão – aos olhos de uma criança a casa era enorme, hoje sei que era um cochicho.

Lembrei-me dela na semana passada, enquanto descia do Príncipe Real para o Bairro
 Alto, a caminho de jantar no Papa Migas, que nasceu há um ano e picos, no lugar do antigo Pap’Açorda. E só porque, tal como na casa, estava com uma curiosidade tremenda em ver no que se tinha transformado este ícone de Lisboa. Apesar de a gerência ter mudado, e de estar agora nas mãos do dono do 1º de Maio e da Tasca do Manel, manteve-se uma ligação ao nome e, felizmente, manteve-se a decoração – “mudámos só a cor”, disse um dos empregados, e de facto o cor-de-rosa está ligeiramente mais escuro (e o espaço todo pintadinho). De resto, dizia eu, felizmente, está tudo na mesma: 30 e tal anos depois continua a ser um dos restaurantes com mais bom gosto de Lisboa.

Agora, tenho de ser franca,
 é impossível, nem que seja
nos primeiros minutos, não comparar o Papa Migas com o Pap’Açorda. Três notas após esse primeiro e rápido raio-X visual. Há muito menos staff – contei três pessoas entre a sala e a cozinha (acredito que haja pelo menos mais uma na cozinha); há muito menos gente a escolher o 57 da Atalaia para jantar numa quinta-feira à noite – contei quatro mesas ocupadas, uma delas com um grande grupo; e há muito mais tradição na ementa – não que o antigo inquilino fizesse gastronomia portuguesa evoluída, mas este é português tradicional e ponto final.

E porque não se deve comparar, mas quem herda o espaço e o deixa quase intacto está também sujeito a que alguém (como eu) o faça,
 pedi dois clássicos do antigo restaurante. No início uns peixinhos da horta. O aspecto 
é parecido, o polme muito bem feito, sem vestígios de oleosidade, mas o feijão verde estava pouco cozido e vinha numa dupla camada, o que os torna mais grossos. Apreciação final? Um snack mediano. No fim uma mousse de chocolate, aqui demarcadamente diferente, servida numa dose individual, mas na qual não fui capaz de dar mais de duas colheradas. Uma consistência elástica, nem doce nem amarga, com alguns grumos de qualquer coisa (não pareceu chocolate mal derretido) no meio da mousse, a lembrar mais uma massa de bolo que outra coisa.

Fora isso, e uma salada de polvo que tinha mais pickles do que polvo, mesmo com o bicho saborosíssimo e tenro (uma pena) há coisas boas no Papa Migas. Uma óptima entrecôte com batatas fritas às rodelas
 e esparregado. A carne muito tenra, só grelhada, servida
no ponto, mal passada, as batatas com alguma espessura, mas ainda assim a estalar, o esparregado delicioso. E tem um bacalhau assado com batata a murro e migas, uma dose cavalar, com o bacalhau tostado nas extremidades, muita cebola e azeitonas em cima [por falar em azeitonas, vinham no bacalhau, nos peixinhos da horta, no couvert... e nem sequer eram grande espingarda], que só precisava de um bocadinho mais de sal no peixe, já que as migas com couve estavam muito boas.

Vamos às considerações finais. Apesar de a decoração
 ser a mesma, o Papa Migas 
não é, nem ambiciona ser o Pap’Açorda. E quem lá vai à procura disso, vai ao engano. 
É, isso sim, um restaurante de comida tradicional portuguesa, semelhante aos que o dono tem no bairro, mas a preços mais puxados – este jantar para dois, com vinho, queijo de Azeitão
 e presunto de entrada, saiu a 87€. Pode ser ok para a Lisboa turística, mas é caro para a Lisboa de quem cá vive.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Detalhes

Endereço
Rua da Atalaia, 57
Lisboa
1200-037
Preço
35€ a 45€
Horário
Seg-Qua 15.00-23.30, Qui-Dom 12.00-23.30
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