Os melhores restaurantes de sushi costumam ser balcões, quase sempre até oito lugares, que é o número de pessoas que um homem, sozinho, com uma yanagiba na mão, consegue servir. Este AO Paraíso (AO significa Azul de Okinawa) é um dos poucos lugares de Lisboa com esse formato, com a vantagem de parecer uma sala secreta, à imagem do que se vê no Japão.
No dia em que lá jantei, acrescia à decoração nipónica uma clientela também ela japonesa. Um grupo de seis amigos tinha tomado conta do balcão, da comida e da garrafeira (bebiam mais do que comia e comiam muito) e pareciam estar a adorar. Já depois de completarem o menu omakase (degustação do chef) continuavam a pedir pratos à carta, prolongando a refeição para o segundo turno.
O estilo de sushi é o edomae, clássico, nascido em Tóquio há mais de dois séculos – o oposto da fusão nipo-brasileira que prolifera na cidade. Isso significa que temos peixes tratados de forma simples, crus, ou com marinadas e curas leves, e tudo acaba normalmente em beleza, com o expoente máximo do sushi – os niguiris.
Atrás do balcão está o jovem Kousuke Saito, que antes passou pela Tasca Kome, mas que entretanto já fez temporadas no Japão, de formação e inspiração. Kousuke é uma simpatia e domina a turba japonesa com classe, nunca se esquecendo deste infiltrado na ponta do balcão.
Começou-se com uns pequenos amuse bouche para espevitar as papilas, legumes como nabo e flor de bróculo em dashi (maravilhoso) e sunomono (picles).
Mas o prato principal, como sempre nos bares de sushi de estilo edomae, foram os niguiris, caminha de arroz do tamanho de um mindinho sob cortes de vários peixes, com destaque para o lírio e para o trio de atum rabilho (bluefin), com o o-toro (da barriga) a brilhar mais alto, um dominó marmoreado a desfazer-se na boca.
O ritmo da refeição foi muito bom, tal como foram bons os sakés que se beberam, sem terem preços proibitivos.
As minhas duas únicas notas menos positivas vão para o arroz, que não estava no ponto, e para a sobremesa, um pudim banal.
O arroz de um bar de sushi onde se paga para cima de 90 euros por cabeça é um dos seus pontos mais críticos. É suposto estar perfeito, quer na temperatura (próxima da temperatura do corpo humano, 37ºC), quer no que respeita à textura (pegajoso, mas com os bagos bem definidos, esponjoso sem estar sobrecozido) e ao sabor (ligeiramente ácido, ligeiramente doce, com notas por vezes a frutos secos, do cereal).
No caso, estando a milhas do que se come nas fábricas de sushi (para melhor, claro), o arroz do AO Paraíso estava mais quente do que é suposto e ligeiramente desenxabido.
O menu de 12 momentos custa 68 euros e o de 17 momentos 90 euros. O preço é justo, mas talvez justificasse um miminho fora da caixa, que permitisse ao AO Paraíso sobressair face à concorrência, como fossem mariscos de época (ouriço, em grande forma?) ou outra extravagância.
Em todo o caso, o AO Paraíso vale bem a pena. Vá com tempo, para antes beber um cocktail no bar que serve de antecâmara ao restaurante (Paraíso Cocktail Bar) e tem nas paredes imagens gigantes, qual Capela Sistina do Cais do Sodré, da actriz porno Cicciolina.