Esta é a segunda casa do Pasta Non Basta, que se estreou na Avenida Elias Garcia no início de 2017. É um misto de osteria, o equivalente a uma casa de petiscos italiana com pratos para dividir, com pizzeria, onde o modelo seguido é o das pizzas de massa fina, feitas com farinha 00 em forno de lenha, e restaurante de pastas, risotos e pratos de carne. O Pasta Non Basta de Alvalade tem ainda a vantagem de ter uma esplanada e uma vertente de bar mais vincada.
Crítica
Comece-se pelo serviço. Avaliar o serviço é tramado.
Ao almoço. Uma rapariga novata troca o pedido. Em vez dos gnocchi chega um spaghetti all’amatriciana. Vai um empregado a passar, também novato. “Desculpe, isto são os gnocchi?!”. Ele: “São, sim”. Outra empregada, mais experiente, dá conta da situação. “Não são, não. Pedimos desculpa”. Serviço ignorante. Bem resolvido.
Ao jantar. Sexta à noite. A família toda, o infante com fraldas incluído. Casa cheia, é preciso esperar. O infante desata a fazer asneiras. Berra, chora, corre, cai. “Está com a birra do sono.” Os pais ficam atrapalhados, envergonhados, o costume. Mas eis que as empregadas, mesmo com a casa à pinha, tomam o assunto em mãos. Uma pega na criança, outra traz lápis, outra papel, bidu-bidu, colinho daqui para ali, daling-dalão. A criança ri e silencia-se. Os pais ficam descansados, brindam ao amor e à família (com um vinho branco da casa muito decente) e a restaurantes com empregados-babysitters onde um nano-cliente estridente que não dá um euro a ganhar à gerência é bem-vindo. Serviço cinco estrelas.
Mais à frente no jantar, a mesma empregada que resolve tudo, um espírito extrovertido e hiperfalante, há-de meter-se na conversa do casal, comentando o tempo do dia seguinte, “18 graus é frio, desculpe”. Um inspector Michelin teria ficado chocado, mas o tom faz sentido ali, uma algazarra de famílias de Alvalade, grupos de jovens adultos em modo pré-night e de adolescentes em modo Instagram. Funciona e, mais importante do que tudo: não atrapalha os tempos da comida, que chega certinha. Não atrapalha a comida.
Falemos agora disso. As pizzas deste Pasta Non Basta, quer no restaurante, quer em take away, são olvidáveis: mal assadas, branquinhas, sem aqueles aromas bons da reacção de Maillard; quanto à massa, embora fininha, não tem personalidade e sobra em fermento. Comem-se bem, sem encantar.
Isto não mudou desde que o restaurante abriu, já lá vai mais de um ano. O que mudou foi o resto, sobretudo as pastas.
Aí, estamos em modo italiano de Itália. Spaghetti e spaghettonni com sêmola de grão duro, rijos, firmes; e fettuccine fresco, feito na casa, fettuccine que não são fisgas como as das bancas de shopping, fettuccine pouco elásticos mas a saber a cereal.
O mesmo cuidado no resto do produto e das preparações, grande parte feitas na casa. Há vários pratos com burrata (das que provei, pareceram-me ter frio a mais, mas uma burrata é boa ainda que tenha vivido dentro de um glaciar). Na burrata com pesto, em volta da burrata vinham tomatinhos assados e um pesto rústico, sem excesso de manjericão, e picles de micropimentos a cortarem a gordura. Maravilha, podíamos estar num italiano mais upa-upa.
Quanto ao spaghetti alla carbonara não tem natas, a versão clássica: glanciale (espécie de bacon das bochechas do porco), ovo, queijo pecorino e pimenta preta. Parecido o spaghetti all’amatriciana, mas com molho de tomate e mozarela. Para quem gosta de trufa, a escolha deve recair sobre o spaghettonni al tartufo. Meu preferido: fettuccine dello chef, simples como devem ser as pastas – três, quatro elementos – camarões grandes e descascados e perfeitos de cozedura, durinhos, tudo ligado por um molho marisquento e cítrico (alerta: se a empregada trouxer para a mesa o frasco de parmesão em pó, como foi o caso, resista; para um italiano, parmesão em pó em massas com marisco é como espalhar açúcar no bacalhau).
Das sobremesas, evitou-se o enjoo Nutella da mousse (mas não se evitou uma discussão acesa com os juvenis) e escolheu-se a torta de laranja, clássica, bem boa, a lembrar festas de aniversário de antigamente. Bom também o tiramisù, sempre obrigatório num italiano, aqui servido à fatia de uma travessa, cheio de mascarpone, só falho de licoroso, café e bolo, o que o transformou num creme doce e guloso, ainda que sem estrutura.
Em síntese. Este Pasta Non Basta é um bom restaurante italiano, num ambiente com os clichés dos restaurantes com pinta de Lisboa, mas particularmente agradável e descontraído. Estamos a falar de uma marca – há outro restaurante nas Avenidas Novas –, aparentemente com ambições de expansão, e isso tem riscos quanto à qualidade. Mas neste momento, o preço é competitivo, o serviço alegre e funcional e a pasta – a pasta basta, claro.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.