Aí está um sítio onde nunca entraria. Não fosse a editora desta secção dar-me a dica, teria ficado à porta.
O nome repele, desde logo. Podia-se pensar que a moda dos restaurantes com terminação em “-ria” (Empanadaria, Bifanaria, Sushicharia…) tinha morrido, juntamente com a trouxa de alheira e o Noddy, mas ainda vamos vendo uns e outros.
De resto, olhando da rua, o aspecto também não impressiona. À primeira, parece uma pastelaria recauchutada em moderninho, feita com os mínimos: cadeiras novas empanadas e aquele improviso fajuto de empreendedor sem capital.
Ora, depois de lá comer, tudo isto são pormenores, minudências, picuinhices.
Que se dane a literatura e a decoração. Estamos a falar da melhor-pasta-sem-merdas, com o melhor preço, que comi desde os velhos tempos do Bella Ciao (o da Rua do Crucifixo).
Senão, vejamos. A pasta com pistáchio e citrinos, por exemplo, foi uma lufada fresca de Médio Oriente sobre tortiglioni, que são rigatoni para adultos, mais grossos e sulcados. E dias depois, outro portento: ragu com manteiga queimada, queijo feta, couve kale e cogumelos.
“Que cogumelos?”, perguntei. “Muitos: Portobello, Paris, Morilles”.
Morilles, senhores! Aquelas bombas negras de sabor apanhadas em florestas densas com alces! Onde raio, nesta cidade, se come um prato com Morilles que não custe acima de duas notas de 10€?
Os donos do estabelecimento, de acordo com a empregada de mesa, são três jovens estrangeiros de origens diversas: um inglês, um luxemburguês e um franco-venezuelano. Na sala, manda um casal franco-brasileiro, que parece ter vindo de uma after party mas esforça-se por deixar as pessoas felizes.
Dito isto, eu suspeito que grande parte do sucesso deve-se ao português que está na cozinha. João Frazão tem cara de miúdo do secundário e não está ali só para dar banho à pasta. Foi concorrente do Masterchef, em 2022, e já então teria uma predilecção por massas frescas – soprou-me alguém que conviveu com ele no programa.
Sem o mediatismo de outras figuras do concurso transmitido pela RTP, no entanto, está a começar por onde mais dói: um restaurante de grande tráfego, sem autoria e sem palco.
Esperemos que persista mais uns tempos e que a gerência tenha a sageza de investir nele e não mexer em mais nada – incluindo tudo o que é imperfeito.
Deixem a decoração em paz, mantenham o chef feliz e o crédito controlado, a bela pasta e preços de país europeu de segunda (que é o que este rectangulozinho é, apesar dos bilionários).
Os empregados podem até fumar no meio do serviço. Pode até servir-se um tiramisù uns pontos abaixo da pasta e a carta de vinhos ser pobrezinha. Haja ragu e tortiglioni de pistáchio, simpatia e consistência, boas farinhas e facturas de 20€. E lá estaremos de novo.