1. Pastaria
    Francisco Romão Pereira
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Crítica

Pastaria

4/5 estrelas
A melhor pasta fresca que Alfredo Lacerda comeu, nos últimos tempos, fica num pequeno restaurante, e tem na cozinha um ex-Masterchef.
  • Restaurantes
  • Lisboa
  • Recomendado
Alfredo Lacerda
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A Time Out diz

Aí está um sítio onde nunca entraria. Não fosse a editora desta secção dar-me a dica, teria ficado à porta. 

O nome repele, desde logo. Podia-se pensar que a moda dos restaurantes com terminação em “-ria” (Empanadaria, Bifanaria, Sushicharia…) tinha morrido, juntamente com a trouxa de alheira e o Noddy, mas ainda vamos vendo uns e outros. 

De resto, olhando da rua, o aspecto também não impressiona. À primeira, parece uma pastelaria recauchutada em moderninho, feita com os mínimos: cadeiras novas empanadas e aquele improviso fajuto de empreendedor sem capital. 

Ora, depois de lá comer, tudo isto são pormenores, minudências, picuinhices. 

Que se dane a literatura e a decoração. Estamos a falar da melhor-pasta-sem-merdas, com o melhor preço, que comi desde os velhos tempos do Bella Ciao (o da Rua do Crucifixo). 

Senão, vejamos. A pasta com pistáchio e citrinos, por exemplo, foi uma lufada fresca de Médio Oriente sobre tortiglioni, que são rigatoni para adultos, mais grossos e sulcados. E dias depois, outro portento: ragu com manteiga queimada, queijo feta, couve kale e cogumelos.

“Que cogumelos?”, perguntei. “Muitos: Portobello, Paris, Morilles”.

Morilles, senhores! Aquelas bombas negras de sabor apanhadas em florestas densas com alces! Onde raio, nesta cidade, se come um prato com Morilles que não custe acima de duas notas de 10€? 

Os donos do estabelecimento, de acordo com a empregada de mesa, são três jovens estrangeiros de origens diversas: um inglês, um luxemburguês e um franco-venezuelano. Na sala, manda um casal franco-brasileiro, que parece ter vindo de uma after party mas esforça-se por deixar as pessoas felizes. 

Dito isto, eu suspeito que grande parte do sucesso deve-se ao português que está na cozinha. João Frazão tem cara de miúdo do secundário e não está ali só para dar banho à pasta. Foi concorrente do Masterchef, em 2022, e já então teria uma predilecção por massas frescas – soprou-me alguém que conviveu com ele no programa. 

Sem o mediatismo de outras figuras do concurso transmitido pela RTP, no entanto, está a começar por onde mais dói: um restaurante de grande tráfego, sem autoria e sem palco. 

Esperemos que persista mais uns tempos e que a gerência tenha a sageza de investir nele e não mexer em mais nada – incluindo tudo o que é imperfeito. 

Deixem a decoração em paz, mantenham o chef feliz e o crédito controlado, a bela pasta e preços de país europeu de segunda (que é o que este rectangulozinho é, apesar dos bilionários). 

Os empregados podem até fumar no meio do serviço. Pode até servir-se um tiramisù uns pontos abaixo da pasta e a carta de vinhos ser pobrezinha. Haja ragu e tortiglioni de pistáchio, simpatia e consistência, boas farinhas e facturas de 20€. E lá estaremos de novo. 

Detalhes

Endereço
Largo Santa Bárbara 8f
Lisboa
1150-287
Preço
20€
Horário
Seg-Sáb 12.00-15.00, 19.00-22.30
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