1. Alcoa (Fotografia: Arlindo Camacho)
    Fotografia: Arlindo Camacho

    O balcão da Alcôa no Chiado

  2. Alcoa (Fotografia: Arlindo Camacho)
    Fotografia: Arlindo Camacho

    Torrão Real. Envolvido em papel, tem amêndoa, gemas e, por cima, fios de açúcar caramelizados que “são todos feitos e puxados à mão”. É um doce muito aveludado (apesar das três texturas) e deve comer-se à colher (3,40€).

     

  3. Alcoa (Fotografia: Arlindo Camacho)
    Fotografia: Arlindo Camacho

    Ovo do Paraíso. Tem uma fina (e facilmente quebrável) massa folhada em volta, é recheado com amêndoa, pinhão, açúcar e gemas (2,70€)

     

  4. cornucópia da alcoa (Fotografia: Arlindo Camacho)
    Fotografia: Arlindo Camacho

    Cornucópia. Tem uma massa fina e estaladiça frita em azeite que contrasta com o cremoso doce de ovos (2,70€).

     

Crítica

Alcôa

5/5 estrelas
Violeta de Vasconcellos peregrinou pela sua religião, os ovos.
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Violeta de Vasconcellos
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A Time Out diz

Se a ausência de profissão de fé me mantém no ateísmo, a minha recente visita à Alcôa deixou-me o estômago a querer crer n’Ele. Foi refluxo deístico. 

Nascida em Alcobaça, há uns anos que a temos mais à mão, em Lisboa. Instalou-se numa loja que é uma preciosidade, graças aos magníficos painéis cerâmicos de Querubim Lapa. Vale bem a pena lá beber a bica, no discreto balcão de parede. O café é bom, bem como tudo o que há para trincar. Bom, isto já é inferência estatística, que provar todas as variedades (para aí uma vintena!) é coisa para não dar saúde. Admito que a escolha foi desordenada, porque não há critérios que nos valham perante a exuberância conventual. Fomos à prova: comecei pela Cornucópia (3,85€). Fui assolada por Natal, que aquela casca frita remete para coscorões. Mais dura, fina, estaladiça, com uma fritura nada discreta nem nada fora do ponto. Para quem goste de comer com as mãos (se não gostam, vão aprender a gostar) comer uma cornucópia é prazer, porque lá andamos a equilibrar pedaços de casca, a mergulhá-los no doce de ovos – incrível, cremoso, tão pouco doce quanto seria aceitável ser. E o toque de canela, bem pouca, no topo, que parece ter sido polvilhada com as pontinhas dos dedos de qualquer querubim (vai que foi o Lapa?). 

Para refrescar, sugiro a Encharcada (3,85€), onde o sabor a ovo nos atinge sem atalhos, numa onda amarela, húmida e só somos remotissimamente interrompidos pela presença dos pedacitos do ovo confitado.

Para quem seja susceptível a tanto ovo (coitado), pode desenjoar com uma Delícia de amêndoa (2,95€). Doce e quase amarga, tem uma textura excepcional, cascudinha à superfície e pedaçuda no interior.

O Torresmo do Céu (3,85€) pareceu-me o menos fresco, mas a forma como alguns destes doces reagem ao tempo não os deixa menos bons. A casca passou de estaladiça a chewie, igualmente deliciosa, com um travo salgadinho a levar-nos ao interior, onde as amêndoas bem miúdas engrossam o ovo.  

Acho belíssima a forma como uma mesma base de ingredientes, ovos e pontos de açúcar, leva a formas, texturas, sabores tão diversos. Quase que apaziguo o meu anticlericalismo quando penso nas noviças que dedicaram a vida a estas descobertas. Creio que se deveria introduzir no cânone qualquer apontamento que, sem desmerecer o milagre da multiplicação dos pães, desse o destaque devido à multiplicação de resultados de ovos com açúcar.

Detalhes

Endereço
Alcôa
Rua Garret, 37-39
Lisboa
Transporte
Metro Baixa-Chiado
Horário
Seg-Dom 10.00-22.00
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